José Pereira da Silva trilhou vida de altos e baixos, mas sempre com apego pelo que mais amava: as artes plásticas
O meio cultural brasileiro se despediu de um de seus artistas mais silenciosos, porém de extremo talento nas artes plásticas. José Pereira da Silva, natural de Minas Gerais, mas que trilhou sua caminhada nas artes em Brasília e Goiás, faleceu em julho, vítima de um câncer, aos 79 anos. Criado na roça, José descobriu cedo seu talento. Andava pintando as paredes de casa com carvão de lenha, esbanjando talento nos desenhos e na pintura. Seu nome artístico veio da junção de seu vulgo de batismo com sua maior paixão: José + Arte, nascendo assim: Josarte.
Com o tempo, se mudou para Brasília e começou a expandir seu trabalho na capital, como artista plástico. Josarte também esbanjou versatilidade em sua carreira, atuando no cinema, circo e até mesmo na televisão, sendo desenhista da Globo por dois anos: “A arte para mim resume tudo na minha vida. Eu tenho um sentimento que é a arte e a pintura. Não é uma profissão, é um sentimento. Pintamos aquilo que estamos sentindo”, relatou o artista em entrevista de 2017.
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Josarte realmente amava o que fazia e conseguiu transmitir isso ao mundo, pelo menos o máximo que lhe foi possível. Enquanto artista em Brasília, relatou ter vendido muitos quadros para turistas e até mesmo ensinado uma francesa no campo das artes plásticas. José, no entanto, relembrou que era difícil emocionalmente se despedir de suas obras, principalmente a que abriu as portas: Primeiro quadro que vendi foi a mesma coisa de tirar um pedaço de mim. Eu não queria vender, mas tinha a necessidade para investir em materiais. Me apego muito naquilo que faço. Tenho muito amor e carinho pelos meus quadros”.
Conhecido em meio a capital federal, Josarte presenciou sua derrocada. Como relatou o artista, “o maior erro do ser humano é crescer o Eu”. Vindo de uma família humilde, de boa criação e educação, José cedeu ao seu ego. Junto de novas amizades, acabou derrotado pela bebida e pelas drogas.
Foram 22 longos anos de Josarte em meio ao vício. Nos últimos, chegou a morar na rua após discussão com sua irmã e por lá ficou, até ser resgatada pela mesma tempo depois. Foi levado para a Missão Vida, se recuperou e dedicou suas forças ao ministério missionário. Acompanhou equipes da instituição pelo país, sempre levando sua arte e testemunho. Chegou até a presentear Jô Soares com um de seus trabalhos e ainda atuava como professor de artes no Centro Educacional Vida. Realmente, uma vida honrosa que chegou ao fim. Julho nos despediu de um grande artista, e de um ser humano ainda maior.