Estudos apontam que a depressão será a principal causa de incapacitação em 2030, ficando à frente, inclusive, de doenças cardiovasculares. O psiquiatra Ricardo Moreno define a depressão como “uma doença que tem como base uma disfunção química do cérebro, ou seja, os sistemas de neurotransmissão são comprometidos. São vários sinais e sintomas que caracterizam o quadro clínico, como tristeza, angústia, melancolia e diminuição do prazer.”
Cerca de 40% dos pacientes deprimidos têm fator genético envolvido na doença. Já os fatores sociais não são tidos como causadores, mas sim como desencadeadores. Ainda segundo o psiquiatra Ricardo Moreno, “indivíduos com vulnerabilidade genética, quando submetidos a estresse físico ou psicológico, podem ou não desenvolver a doença.”
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A depressão já acomete cerca de 9% dos brasileiros. A doença apresenta um conjunto de sintomas como tristeza, falta de vigor físico, perda da libido e desesperança. Apesar de muitos se considerarem deprimidos por apresentarem uma ou outra queixa clínica, vale lembrar que um único aspecto não determina a existência da depressão. Pessoas em situações de estresse, lutos e crises emocionais podem entristecer diante dessas situações, mas isso não significa que estejam deprimidas. Tão logo o quadro antagônico desapareça e as coisas se normalizem, a tristeza desaparece.
O grande problema da depressão é o desencanto, que também pode ocorrer por situações políticas e econômicas. A Argentina, por exemplo, passa por uma grande crise não apenas social, mas existencial. Outro exemplo é o Brasil, em que há um batalhão de subaproveitados: são 50 milhões de pessoas com idade entre 15 e 29 anos, um fenômeno que vem gerando aguda frustração na juventude. A satisfação dos jovens, que já piorava desde a recessão, agravou-se sobremaneira com a pandemia.
Os dados mostram uma geração mais “desanimada” em relação ao futuro, motivando uma “fuga de cérebros”. 47% dos jovens brasileiros gostariam de sair do País para tentar uma vida melhor no exterior. As oportunidades concretas de trabalho e estudo, bem como a inserção no mercado foram negativamente impactadas na pandemia, esvaziando as perspectivas de futuro.
Certamente a epidemia da covid-19 contribuiu para o estado de desencanto, mas há um componente na alma humana que tem sido ainda mais prejudicial: a falta de esperança. Nos EUA, o suicídio já é a segunda causa de morte entre os adolescentes e na Noruega há mais suicídio que assassinato. Falta alegria de viver e, não sem razão, drogas, barbitúricos, álcool e adrenalina têm se transformado em graves problemas social e de saúde coletiva.
Todo esse vazio se relaciona com a clássica frase de Pascal que afirmou que “há no coração do homem um vazio do tamanho de Deus.” Falta sentido, propósito. O problema do homem, antes de ser econômico, social e financeiro, é um problema teológico. A ausência de Deus e a filosofia do niilismo certamente são os grandes fatores desencadeadores de tamanho desencanto.