Por Cairo Tondato
Nem criança nem adulto. Uma fase descrita superficial e, genericamente, como a mais confusa e conflitante. Antes de atingir a adolescência, eu só ouvia falar a respeito do quanto as pessoas mudavam nesse período, não só fisicamente- a parte notória para todo mundo- mas, principalmente, no quesito personalidade. Eu acreditava que comigo não seria assim. Acreditava que resistiria a ação dos hormônios e a toda pressão externa e me manteria essencialmente o mesmo. Inclusive, justamente por refutar possíveis mudanças, eu demorei a adolescer. Foi preciso chegar aos 16 anos para reparar que havia crescido. E então, de repente, eu entendi. Me vi caindo numa espiral, com tantos altos e baixos que eu mal podia acompanhar o que acontecia na minha própria vida. O que de mais intenso me aconteceu foi sentir.
Senti solidão e percebi que a família não me bastava mais. Eu precisava receber atenção de fora, ter mais gente ao redor para me apoiar e encher a minha bola constantemente.
Senti ciúme. Na busca por aumentar o círculo de convivência, de modo a satisfazerem o próprio ego e obterem a sensação de pertencimento, muitos amigos meus fizeram novos amigos. A impressão de ter tido a importância na vida de alguém minimizada desenvolvia automaticamente um complexo de vira-lata, responsável por gerar uma série infinita de questionamentos do tipo “o que estou fazendo de errado?”, “por que eu não sou o suficiente?”, “por que me usam como segunda opção?”, daí por diante, num tom cada vez mais dramático e pessimista.
Senti inveja. Ao longo do percurso, sempre existiram alguns que pareciam imunes ao caos. Aqueles que estavam na mesma etapa que eu, passando por problemas semelhantes, mas não admitiam demonstrar, o que criava a falsa imagem de uma vida perfeita.
Senti frustração. Talvez tenha sido esse o sentimento mais presente na minha caminhada. Frustração, acompanhada da decepção, ambas causadas, na maioria das vezes, pela falta de reciprocidade. Meu eu adolescente colecionava paixões. Cada dia encontrava alguém que seria digno de toda a minha admiração e em quem eu depositaria todas as minhas esperanças. Antes de conhecer a pessoa de fato, já tinha idealizado grande parte de suas características e até imaginado um futuro pra nós. E então, nada acontecia.
Senti vergonha. As comparações, os padrões instituídos, a vontade de me encaixar, a auto-cobrança… tudo isso já me fez odiar cada parte do meu corpo e desejar ser qualquer outra pessoa no mundo.
Tantos sentimentos são capazes de grandes estragos em pessoas românticas e sonhadoras como eu, porque absolutamente nada sai como planejado. Nunca! A gente se sente só ao mesmo tempo em que quer ficar sozinho. Transforma a raiva num amor platônico num passe de mágica. Pensa ter personalidade e opiniões concretas, mas vai se desconstruindo com o passar do tempo. Se perde e pensa que nunca mais vai conseguir se encontrar. E, sinceramente, eu não sei quem eu vou ser amanhã. Só o que sei é que ainda estou imerso nesse processo, tão doloroso e tão gratificante, e que espero ter todas as minhas expectativas frustradas por coisas ainda melhores do que as que fui capaz de idealizar.
Que texto maravilhoso!!!