A rodovia, considerada uma “espinha dorsal” do desenvolvimento para o País, em especial, para os estados de Goiás e do Tocantins, deve receber investimentos de R$ 14 bilhões nas próximas décadas, após sua concessão à iniciativa privada.
Claudius Brito
No dia 1º de fevereiro de 1959, era inaugurada a Belém-Brasília, rodovia projetada pelo engenheiro Bernardo Sayão, que recebera a missão de ninguém menos que o então presidente Juscelino Kubistchek. Brasília, a capital federal, seria inaugurada pouco mais de um ano depois, no dia 21 de abril de 1960.
Aquela rodovia simbolizava, na época, um marco de integração entre o Norte e o Sul do País. E ali, no meio do caminho, o marco zero foi fincado em Anápolis.
Mas, mal sabia Bernardo Sayão que décadas depois, por falta de zelo, por conta de mazelas e outros motivos mais, a rodovia foi deixada em estado de abando.
Uma tentativa frustrada de resolver o problema, passando a rodovia para a gestão da iniciativa privada, trouxe ainda mais prejuízo.
Consórcio formado por EcoRodovias e GLP vence o leilão da BR-153
E assim os anos se passaram. Uma reforma pontual aqui, outra acolá e cada vez mais, com o passar dos anos, a Belém-Brasília (BR-153), ganhou movimento devido a atividade econômica que se intensificou em Goiás e, um pouco mais recente, no vizinho e irmão Estado do Tocantins, que era parte do território goiano até 5 de outubro de 1988, quando foi emancipada, com a vigência na nova Constituição Federal.
62 anos se passaram desde a façanha e a coragem de Bernardo Sayão de abrir uma estrada no centro do Brasil, no meio quase do nada. E, seis décadas e dois anos depois, em Anápolis, foi assinado o contrato de concessão da BR-153, num trecho de 850 quilômetros ligando o Município à cidade de Aliança, no Tocantins.
Junto com a BR-153, a concessionária Ecovias do Araguaia, nova unidade da EcoRodovias, em consórcio com a GLP, vai explorar também as BRs 080 e 414 (esta última, também, tendo Anápolis como marco inicial).
A assinatura do contrato de concessão ocorreu na manhã desta sexta-feira, 1º/10, no Km 423 da Br-153, já quase nas proximidades do Distrito de Interlândia.
A solenidade foi concorrida, contando com a presença do ministro de Infraestrutura, Tarcísio de Freitas; dos governadores Ronaldo Caiado (Goiás) e Mauro Carlesse (Tocantins); vários prefeitos; deputados (estaduais e federais); senador; vereadores; e também diretores e executivos do consócio Ecovias do Araguaia.
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Bolsonaro
O presidente Jair Bolsonaro não pode estar presente. Mas, durante o evento, houve uma interação ao vivo dele, direto de Brasília, onde ele participava de outra agenda.
Numa fala rápida, Bolsonaro lembrou que Anápolis foi uma das primeiras cidades que ele visitou após assumir o cargo, vindo aqui para a assinatura da concessão da Norte-Sul. Inclusive, ele anunciou que no final deste ano ou no início do ano que vem, deve vir novamente à cidade, para o início das operações da ferrovia.
O presidente também falou da passagem dos seus 1000 dias no governo, sendo 600 deles na pandemia do novo coronavírus. Ele lamentou as mortes ocorridas e falou que o País está na rota da retomada do desenvolvimento.
Investimentos bilionários
O contrato assinado em Anápolis entre o consórcio e o Governo Federal, tem prazo de 35 anos de vigência. Neste período, os investimentos previstos são da ordem de R$ 14 bilhões, sendo R$ 7,8 bilhões em obras e R$ 6,2 bilhões em custos operacionais.
O diretor presidente da Ecovias, Alberto Lodi, informou que a partir da assinatura do contrato, “nosso time já está pronto para atuar”.
Conforme disse, já no primeiro ano os usuários das rodovias já estarão sentido os primeiros resultados dos investimentos, com as melhorias na parte de pavimentação asfáltica e sinalização.
Após o quinto ano de vigência do contrato, devem ter início os investimentos mais pesados, de duplicação das rodovias, a maior parte na BR-153. A expectativa é que nos primeiros 10 anos do contrato, cerca de 60% das duplicações estejam concluídas.
O diretor ressaltou ainda o aspecto de segurança, que estará contemplado no investimento com 19 bases de operação e apoio, 50 veículos de serviços e um centro de controle que irá funcionar 24 horas. Além de dois postos de descanso para os caminhoneiros.
Também há previsão, no contrato, de 144 novos retornos, 27 Km de faixas adicionais e 16 novos acessos.
Alberto Lodi acrescentou ainda que a concessionária irá disponibilizar sinal de wi-fi na rodovia e adotara a metodologia iRAP (International Road Assessment Program), um programa de segurança viária com foco na redução de acidentes e de riscos de mortes nas rodovias.
Discursos
Durante cerca de 3 horas, várias autoridades presentes discursaram. O governador Ronaldo Caiado e o prefeito Roberto Naves, agradeceram o apoio do presidente Jair Bolsonaro e enalteceram o trabalho desenvolvido pelo ministro Tarcísio de Freitas, que segundo eles vai trazer um grande impacto para o Município e para o Estado, sobretudo, na questão da logística.
Além disso, Caiado e Roberto também destacaram que as obras nas rodovias vão gerar milhares de empregos diretos, promovendo renda para as famílias.
Além disso, o governador e o prefeito, nos discursos e em entrevistas à imprensa, também ressaltaram o aspecto histórico que acompanha a rodovia Belém-Brasília.
Boa notícia
O ministro Tarcísio de Freitas, em seu discurso, fez um apanhado de vários projetos que a pasta desenvolve em Goiás e na região Centro-Oeste, visando dar maior competitividade econômica. Ele citou as concessões rodoviárias, as obras e concessões de ferrovias e, muito breve, haverá também o início do processo para a concessão de aeroportos da região.
Mas, uma notícia “doméstica” era a mais aguardada. O ministro informou que o consórcio vai agregar no rol de investimentos da concessão, a obra do viaduto do Recanto do Sol, na região Norte de Anápolis.
O viaduto faz o entroncamento entre as BR-153 e 414 e dá acesso a bairros populosos, dentre eles o próprio Recanto do Sol, bem como acesso à Base Aérea de Anápolis/Ala 2, sendo intenso o fluxo de veículos.
Já no final do evento, o governador Ronaldo Caiado pediu ao ministro Tarcísio de Freitas possa ajudar Goiás a resolver um de seus “gargalos”, ou seja, viabilizar a implantação de um gasoduto, para que as indústrias e o setor de mineração possam reduzir custos e ganhar mais competitividade no mercado.