Por Samuel Vieira
O termo “bordeline” tornou-se, nesta semana, um dos mais pesquisados no “Googletrends”, que registra os assuntos mais relevantes da Internet. As características desse transtorno vão da impulsividade (incluindo a violência) às oscilações de humor, passando pela insônia e irritabilidade, levando a pessoa a ter uma forte tendência ao consumo abusivo de álcool, remédios e drogas. Transtornos alimentares também estão associados.
Em outras palavras, a pessoa com esse transtorno de personalidade é alguém intragável. Em alguns casos, é quase impossível conviver com ela. Muitas vezes o comportamento existe porque a pessoa foi exageradamente mimada na infância e desde cedo aprendeu que, com birra, mau humor e agressividade conseguiria o que queria. Naturalmente podemos entender que alguns destes comportamentos também podem estar associados a uma disfuncionalidade ou à violência reativa ao tratamento recomendado, que não é medicamentoso e sim terapêutico.
Um dos tratamentos mais eficazes tem sido a terapia em grupo por razões claras: a pessoa precisa aprender a dialogar, ouvir opiniões diferentes, lidar com frustrações e discordâncias, bem como aprender a controlar seu impulso de gritar, de perder o controle, elaborando melhor suas reações de humor.
Embora não seja possível ignorar doenças mentais e transtornos como o da ansiedade, bipolaridade e borderline, temo que estejamos terapeutizando, excessivamente, comportamentos inadequados, dando nomes bonitos e sofisticados a atitudes feias e deselegantes. Por exemplo: o déficit de atenção pode justificar o garoto indisciplinado e displicente, mas, será que toda desatenção e dificuldade de se concentrar e estudar pode realmente ser explicada pelo déficit de atenção?
Da mesma forma, será que toda pessoa desequilibrada, que gosta de “rodar a baiana”, “fazer um barraco”, armar confusão e escândalo, dar show e xilique, ter ataque nervoso ou histérico, faniquito e fricote pode ser justificada pelo transtorno de personalidade conhecido como bordeline? Mais uma vez, não quero negar o transtorno, mas, sim, questionar se tais atitudes não poderiam se tornar um meio de vida! Ou seja, questiono, apenas, se tais comportamentos não seriam uma fórmula infantil de resolver as coisas e lidar com frustrações e perdas.
Um conselho a mais para você que se justifica psiquiatricamente: ninguém é obrigado a lidar com seus desatinos e grosserias, seja qual for o nome que você queira dar para se justificar. Então, se você percebe que realmente tem algum problema grave de distúrbio comportamental, procure ajuda profissional. Agora, se isso é apenas uma forma de perpetuar o seu mau humor e instabilidade, fique atento, porque você pode perder não só quem você ama, mas também pessoas que amam você, como diz Chico Buarque: “Se você vai ficar enrustido, com esta cara de marido, a moça é capaz de se aborrecer. Detrás de um homem triste há sempre uma mulher feliz, e detrás desta mulher há sempre homens tão gentis…”
Bom dia. É sempre bom ver temas de saúde mental rompendo a barreira do tabú e sendo discutidos. Tentando contribuir: diagnósticos médicos, em psiquiatria ou qualquer especialidade médica, é principalmente um meio, não um fim si mesmo. Nao devem servir como rotulações, justificativas de conduta antissocial (que continua antissocial, independente de doenca) ou desculpas para atos que prejudicam outras pessoas ou até mesmo, em casos extremos, à própria pessoa.
A finalidade, como sempre em medicina, é racionalizar intervenções que , em última análise, melhorem as condições de vida das pessoas, pacientes e familiares. Dentro dessa ótica, psicoterapia e medicamentos podem ser úteis quando bem empregados. É importante para isso verificar se os profissionais são capacitados, certificados e habilitados para atendimento. No caso dos médicos, é importante verificar se estão devidamente registrados no Conselho Regional de Medicina do estado em que atuam, no nosso caso o CREMEGO, tanto como médicos quanto como especialistas em psiquiatria. Isso pode ser feito pelo site do CREMEGO ou do Conselho Federal de Medicina, CFM.