Seja ao som das tradicionais marchinhas, no ritmo vibrante do axé ou ao pulsar do funk, mais uma vez as emissoras de TV entram na batucada, exibindo incessantemente um Brasil em festa. O carnaval chega e, com ele, a contagiante vontade de deixar tudo para trás.
Por Vander Lúcio Barbosa
É o momento em que muitos abandonam temporariamente suas rotinas familiares, empregos e estudos, em nome de um suposto “direito sagrado” de cair na folia. A televisão vende a imagem de um país de sonhos: desfiles de mulheres com fantasias que, embora mínimas, são valorizadas em milhares de reais; um espetáculo que parece afirmar que endividamento e responsabilidades são meros detalhes.
Milhões de pessoas veem a avenida, os salões e as praias como destinos finais onde os limites se dissolvem diante da grandiosidade carnavalesca. Essa ilusão televisiva projeta um Brasil de riqueza, beleza, alegria e samba no pé, transmitida ao mundo todo em tempo real.
Entretanto, essa narrativa se distancia significativamente da realidade. Por trás das câmeras, o carnaval é também um pico no consumo e comércio de drogas, um fenômeno muitas vezes silenciado. Nesta época, empresas registram suas piores quedas no ano, com indústrias trabalhando a meio vapor e o serviço público quase paralisado. A mídia ignora escândalos políticos e não menciona o aumento dos crimes sexuais, os acidentes de trânsito que disparam e as emergências médicas, como infartos, consequências diretas da festa.
Para muitos, o carnaval marca o início de responsabilidades adultas não planejadas, com o aumento de gestações indesejadas. Na Quarta-feira de Cinzas, a euforia dá lugar a uma ressaca que é mais do que física. Voltar à rotina é um desafio em um país que não se recupera tão rapidamente da realidade por trás do frenesim festivo. Infelizmente, não são apenas os confetes que caem, mas também as máscaras que insistimos em usar para encobrir as dificuldades entregues à folia.
O Carnaval pode, sim, ser um momento de celebração e cultura, mas é crucial que, ao retirarmos as fantasias, estejamos prontos para encarar o Brasil real e todas as suas complexidades.
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