Alguém afirmou corretamente que “o problema da vida é que ela é cotidiana.” Fazer as mesmas coisas todos os dias, na mesma hora, do mesmo jeito, no mesmo lugar gera monotonia e tédio. Mas, como seríamos capazes de sobreviver se a vida não tivesse rotinas? Se não fôssemos capazes de executar as mesmas tarefas básicas, cotidianamente?
Ao nos levantarmos já somos engolidos pelas diversas tarefas rotineiras, desde lavar o rosto, preparar o café, tomar banho, fazer a barba, preparar os filhos para a escola e sair para o trabalho. A agenda está cheia de pequenas atividades repetitivas e entediantes, mas necessárias.
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O autor de Eclesiastes afirma: “Levanta-se o sol e põe-se o sol e volta ao seu lugar, onde nasce de novo. O vento vai para o Sul e faz o seu giro para o Norte, volve-se e revolve-se na sua carreira e retorna aos seus circuitos. Todos os rios correm para o mar e o mar não se enche; ao lugar para onde correm os rios, para lá tornam eles a correr (…) O que foi é o que há de ser e o que se fez, isso se tornará a fazer; nada há, pois, novo debaixo do sol.” (Ec 1.5-7,9)
Fazer as pequenas e desafiadoras tarefas cotidianas de forma significativa é um grande desafio. Precisamos transformar as pequenas atividades em atos de liturgia e prazer. Dar valor a certos aspectos que eventualmente desprezamos. O que dá sentido e sustenta a vida não são as coisas excepcionais que ocasionalmente fazemos. Elas até podem ser um oásis no deserto árido, mas não dão sustentabilidade à vida, afinal, “comida de um dia não engorda cachorro.” É preciso produzir todos os dias, comer todos os dias. O banho que tomamos ontem não serve para hoje e a água que bebemos não é armazenada. Precisamos bebê-la regularmente. Precisamos aprender a fazer pequenas tarefas com gratidão, deixando pra lá a amargura.
Atos simples devem ser revestidos de significado e valor. Já viram a simplicidade e sabedoria da natureza? O sol faz o mesmo giro, o rio corre naturalmente, a semente espera seu ritmo para crescer e virar árvore, sem pressa… Esse equilíbrio das coisas diárias sustenta a vida. O cotidiano traz previsibilidade, harmonia e orienta o caos.
Então, ao acordar todos os dias não pense negativamente: “Terei de fazer tudo de novo!” Com gratidão e esperança diga: “Que bom que posso fazer tudo de novo!” Minhas pernas estão fortes para andar, tenho saúde e disposição para preparar a comida e me alimentar, meus olhos são capazes de enxergar e minhas mãos têm disposição e habilidade para servir.”
Assim passamos a considerar o cotidiano não como um peso, um fardo, com náusea e cansaço, mas como fonte de gratidão e celebração!