No último dia 17 de fevereiro, quarta-feira de cinzas, a Conferencia Nacional dos Bispos do Brasil – CNBB e as Igrejas do Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil – CONIC lançaram a Campanha da Fraternidade 2010. Neste ano, o tema lançado ao debate é “Fraternidade, Economia e Vida”. O lema é retirado do Evangelho de São Mateus, Capitulo 6, Versículo 24: “Vocês não podem servir a Deus e ao dinheiro”.
O desequilíbrio econômico no Brasil e no mundo foi o que motivou o tema da CF deste ano. Esse tema sugere o debate em duas frentes distintas. A primeira, diz respeito à análise da Doutrina Social da Igreja, no entendimento que todo sistema econômico (ou político) deve ser visto a partir do conceito da pessoa humana e a serviço da pessoa humana. Já a economia, tema da Campanha, também corresponde a um dos temas desenvolvidos pelo Papa Bento XVI na Encíclica sobre a verdade e a caridade.
Segundo o Bispo de Anápolis, Dom João Wilk, a Igreja realiza a CF a 50 na época da Quaresma porque esse período é, para os católicos, tempo forte de conversão, de graça e de salvação. Onde eles se preparam para viver, de maneira intensa, livre e amorosa, o momento mais importante do ano litúrgico e da história da salvação: a Páscoa. “A Campanha é lançada na Quaresma porque esse é um tempo de reflexão, mudança de mentalidade, conversão, penitência. E a CF propõe uma reflexão e uma mudança de mentalidade, trazendo a cada ano um tema relevante para a nossa vida individual, em família e em sociedade”.
Ainda segundo o Bispo, o tema desse ano é muito importante, pois tem muitas implicâncias e influencias na vida pessoal e social das pessoas. E com a Campanha, a Igreja propõe uma reflexão sobre os grandes temas inerentes ao momento atual da economia. Além de fazer um apelo para a ética na economia, uma economia humanizada, uma economia que constrói laços de fraternidade. “A idéia é de uma economia a serviço da vida, e não de uma vida a serviço do dinheiro como acontece hoje”, explicou Dom João Wilk.
A destinação da terra, dos bens criados para todos, a questão da água, a transformação da água em mercadoria, os temas da corrupção, juros altos, dívida interna, a crise econômica mundial global, todos esses temas são iluminados pelo tema da CF. Para o Bispo, o dinheiro é necessário, mas devemos saber distinguir necessidade e ganância, e não levar uma vida em função do acúmulo dos bens de posse. “A tradução servir ao dinheiro é adaptada, pois o mal está na forma de uso do dinheiro, na ganância, no lado corrupto do dinheiro. Jesus identifica este uso incorreto do dinheiro como verdadeiro deus pagão. Portanto, a Campanha da Fraternidade nos previne contra o endeusamento do dinheiro”. Portanto, o desafio é buscar a construção de uma nova realidade econômica, mais justa e menos influenciada pela ganância.
História da Campanha da Fraternidade
Em 1961, três padres responsáveis pela Cáritas Brasileira idealizaram uma campanha para arrecadar fundos para as atividades assistenciais e promocionais da instituição e torná-la, assim, autônoma financeiramente.
A atividade foi chamada Campanha da Fraternidade e realizada, pela primeira vez, na Quaresma de 1962, em Natal (RN), com adesão de outras três dioceses e apoio financeiro dos bispos norte-americanos.
No ano seguinte, dezesseis dioceses do Nordeste realizaram a Campanha. Não teve êxito financeiro, mas foi o embrião de um projeto anual dos Organismos Nacionais da CNBB e das Igrejas Particulares no Brasil, realizado à luz e na perspectiva das Diretrizes Gerais da Ação Pastoral (Evangelizadora) da Igreja em nosso País.
Em seu início, teve destacada atuação o Secretariado Nacional de Ação Social da CNBB, sob cuja dependência estava a Cáritas Brasileira, que fora fundada no Brasil, em 1957.
Na época, o responsável pelo Secretariado de Ação Social era Dom Eugênio de Araújo Sales, e por isso, presidente da Cáritas Brasileira. O fato de ser administrador apostólico de Natal (RN) explica que a Campanha tenha iniciado naquela circunscrição eclesiástica e em todo o Rio Grande.
Três documentos conciliares (do Concílio Vaticano II) foram importantes para o desenvolvimento da CF: Sacrosanctum Concilium, sobre a liturgia; Lumen Gentium, sobre a natureza e missão evangelizadora da Igreja; e Gaudium et Spes, sobre a presença transformadora da Igreja no mundo de hoje.
Na América Latina, a Primeira Conferência Geral do Episcopado Latino-americano, em Medellín (1968), teve um papel muito importante. A reflexão sobre a realidade latino-americana levou a Igreja a enfrentar o desafio da pobreza e a necessidade de uma presença transformadora nas estruturas sociais.
Critérios para a escolha dos temas:
• aspectos da vida da Igreja e da sociedade;
• desafios sociais, econômicos, políticos, culturais e religiosos da realidade brasileira;
• as Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil e os documentos do Magistério Universal da Igreja;
• a Palavra de Deus e as exigências da Quaresma.
Outros temas da Campanha da Fraternidade
CF-2001: Vida sim, drogas não!
CF-2002: Fraternidade e povos indígenas – Por uma terra sem males!
CF-2003: Fraternidade e pessoas idosas – Vida, dignidade e esperança!
CF-2004: Fraternidade e água – Água, fonte de vida.
CF-2005: Solidariedade e paz – Felizes os que promovem a paz!
CF-2006: Fraternidade e pessoas com deficiência – Levanta-te, vem para o meio!
CF-2007: Fraternidade e Amazônia – Vida e missão neste chão!
CF-2008: Fraternidade e defesa da vida – Escolhe, pois, a vida (Dt.30,19b)