Administradores são arquivo vivo do desenvolvimento e das dificuldades enfrentadas pelo município ao longo de décadas
Anápolis tem se desenvolvido, mas para crescer sempre existirão barreiras a serem quebradas. Essa é a visão unânime dos ex-prefeitos ouvidos pelo CONTEXTO no aniversário de 114 anos da cidade. Alguns deles continuam na política, outros exercendo seus ofícios profissionais ou já se aposentaram. Mas, todos conservam seus olhares críticos e acompanham atentos o que acontece na conjuntura política e econômica local.
Eurípedes Junqueira

Eurípedes Junqueira esteve à frente da administração de Anápolis entre 1982 e 1984. Com a cassação do então prefeito José Batista, foi nomeado pelo governador de Goiás na época, Leonino Caiado. Além disso, foi secretário de governo dele e Procurador de Justiça no governo Ary Valadão. Hoje, aos 88 anos, segue trabalhando todos os dias no Cartório de Títulos e Documentos, onde é titular. “Gozo de boa saúde e me sinto muito bem desenvolvendo minhas atividades”, disse ele.
Junqueira, que se estabeleceu na cidade em 1947, vindo de Nerópolis para estudar no Colégio Couto Magalhães, sempre se destacou como líder estudantil e até hoje mantém sua lucidez ao fazer análises de conjuntura social. Para o tabelião, o principal problema de Anápolis no presente é econômico. Ele acredita que existem muitos gargalos que não estão permitindo que o município desenvolva completamente sua vocação industrial. “Temos um enorme potencial para gerar riqueza, renda e empregos. E temos nossa localização privilegiada. Mas para que isso ocorra é preciso estratégia, já que outras cidades estão no páreo se desenvolvendo também”, ponderou ele.
Como terra de grandes oportunidades, Eurípedes, mesmo assim, avalia positivamente o futuro próximo de Anápolis. Segundo ele, o município tem se desenvolvido e continua sendo um dos melhores lugares para se morar no Brasil. “Pessoas que, como eu, acompanharam isso aqui por décadas, sabe avaliar que, nos últimos 30 anos nos tornamos outra cidade. Houve muita expansão e crescimento. Estamos muito bem. Mas a questão da estagnação industrial realmente é o que tenho a dizer de negativo”, concluiu ele.
Wolney Martins

No Viaduto Ayrton Senna, que divide os bairros Anápolis City e Parque Brasília, ainda é possível ler a frase “Honestidade e Trabalho”. Esse era o slogan da administração de Wolney Martins, prefeito em duas ocasiões e responsável por aquela obra. Nomeado em 1980 e eleito em 1983, era adversário político de Adhemar Santillo, com quem mediu forças nas urnas mais de uma vez. Aos 85 anos, vive modestamente com a mulher “Dona Santa”, num apartamento alugado no centro. Advogado aposentado, se dedica atualmente a escrever um livro de memórias.
Wolney é natural de Palmeiras de Goiás, mas veio para Anápolis aos 12 anos. Com a saúde em dia e bastante lúcido, o ex-prefeito também fez sua crítica à pedido do CONTEXTO. Segundo ele, o principal problema da cidade é antigo. A falta de planejamento para o futuro. “Isso é um ciclo vicioso. Quando um administrador resolve voltar os olhos para o presente, com soluções imediatistas e populistas, acaba obrigando os outros administradores que o sucedem a fazer o mesmo. E isso aconteceu com Anápolis em algum momento. A cidade deixou de ser preparada para o futuro, de ter obras indutoras do desenvolvimento”, analisou.
Wolney é otimista em relação ao futuro próximo de Anápolis. Mas nem tanto. Segundo ele, o município tem feito um bom trabalho no enfrentamento à pandemia. Mas ele acredita que, mesmo superado, o problema terá seu impacto econômico sentido ao longo de vários anos. “Não digo só isso. Haverá novos protocolos para trabalho e até as relações humanas ficarão diferentes. Vai levar muito tempo até que a vida se estabilize novamente, permitindo a retomada de crescimento no ritmo em que estava antes”, prevê.
Ernani de Paula

Eleito em 2000, o então empresário do ramo agropecuário Ernani de Paula era um homem carismático. Mas também polêmico. Talvez por isso não tenha conseguido terminar seu mandato, já que sua administração sofreu intervenção. Hoje, aos 64 anos, ainda exerce influência na política como empresário e consultor de comunicação, principalmente na internet, onde continua demonstrando seu estilo carismático e polêmico.
Sobre os problemas da cidade, Ernani não vê grandes problemas. Segundo ele, o município possui muito mais do que a maioria das cidades de porte médio não tem. Três rodovias federais e três estaduais, duas ferrovias, um Porto seco, aeroporto civil e de cargas, polo industrial, clima bom, agricultura e pecuária desenvolvidos, proximidade com as capitais estadual e federal, um filho no governo do Estado, um pólo educacional, é referência em medicina, entre outros fatores. “Anápolis é uma cidade próspera e sempre será”, disse ele.
Mas, se fosse para elencar problemas, Ernani diria que os maiores desafios, não só de Anápolis, mas do mundo, estão ligados ao meio ambiente. “A falta de água, o desmatamento, o tratamento de esgoto, a despoluição do Ribeirão das Antas, a poluição do ar são preocupações que todos nós temos latentes na nossa rotina e que se impõem como limitadoras do desenvolvimento sustentável”, concluiu.
Pedro Sahium

Com a Cassação de Ernani, assumiu o vice Pedro Sahium. Bastante querido pelos moradores, tinha um estilo mais apaziguador e didático, já que vinha de uma trajetória acadêmica ascendente. Prefeito entre 2003 e 2008, foi antes vereador por dois mandatos. É formado em Ciências Sociais, Pós-graduado em História Econômica e Política (UNB); Mestrado em Educação e Doutorado em Sociologia da Religião (PUC – GO) e Conferencista em Educação e Ciências da Religião. Depois de encerrar o trabalho na prefeitura, Sahium se desligou da política e voltou a dar aulas na UEG – Universidade Estadual de Goiás. “Aos 57 anos ser professor e avô é o que tem me dado mais prazer”, revelou ele.
Questionado sobre o principal problema de Anápolis hoje e sua visão para a cidade num futuro próximo, Sahium explicou que não vê um problema em específico. “A ampliação da infraestrutura, somando a melhor e maior extensão da galeria de águas pluviais, já que, nas chuvas, ainda enfrentamos situações de calamidade; a manutenção permanente das nossas vias de asfalto urbana e rural; a cobertura completa de ensino fundamental num sistema de turno e contra-turno… isso para citar alguns desafios, que acredito já estarem sendo enfrentados pelos administradores”, exemplificou ele. Segundo Pedro, a razão desses desafios vem em função de que Anápolis tem experimentado um crescimento enorme nas últimas décadas.
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Para se ter ideia, em 1971, no governo do prefeito Henrique Santillo, existiam 110 mil habitantes e agora são em torno de 400 mil. Uma demanda enorme de serviços de estrutura, logística de trânsito, educação, saúde etc. “Acredito que o futuro próximo da cidade, baseado na nossa história, é se transformar em cidade logística na distribuição de mercadorias múltiplas consumidas na América Latina, não apenas no Brasil. Para isso estou torcendo para que os governos (municipal e estadual) se unam e adquiram área no município que comporte pequenos, médios e grandes centros de armazenamento e distribuição de valores”, completou ele.
Roberto Gomide

Natural de Goianésia, mudou-se para a cidade, onde formou-se em odontologia. Um dos mais populares prefeitos de Anápolis, Antônio Roberto Gomide tinha apenas 3% das intenções de voto quando se candidatou. Durante uma campanha marcada por denúncias entre os outros candidatos, acabou sendo escolhido por 75% dos eleitores em 2008. Em 2012, em nova disputa pela prefeitura, foi reeleito. Antes e depois disso, foi vereador por vários mandatos e, atualmente, ocupa uma cadeira na Assembleia Legislativa.
Gomide considera o principal desafio atual do município potencializar o polo industrial e integrar efetivamente o Porto Seco às ferrovias Norte Sul e Centro Atlântica. Também cita a operacionalização do Aeroporto de Cargas e o término do Anel Viário do Daia. Outra preocupação do deputado é com o fomento dos polos educacional e atacadista, além de tornar o Centro de Convenções um local de referência para o turismo cultural e de Negócios. “Essas barreiras, uma vez vencidas, vão proporcionar um avanço econômico e social muito grande para um futuro próximo e é nessas frentes que devemos atuar”, concluiu.
João Gomes

Como Gomide, João Gomes veio de Goianésia aos 18 anos, em 1984 com 18 anos, quando abriu sua primeira empresa. Foi diretor da Acia por muitos anos e foi secretário de Desenvolvimento Econômico de Anápolis. Também foi presidente do Anápolis Futebol Clube e Vice-prefeito de 2009 a 2014.
Com a saída de Gomide para a disputa do governo, tornou-se prefeito entre 2014 e 2016. Depois, assumiu a secretária estadual de Habitação. Atualmente presidente do PSDB, local, se dedica aos negócios e a família. Aos 56 anos, questionado sobre os principais entraves do desenvolvimento de Anápolis, o ex-prefeito enumerou dois. A falta de água e a falta de emprego.
Segundo ele, o desabastecimento hídrico vem sendo resolvido lentamente, pois carece de grandes investimentos e não será solucionado a curto prazo. Já o desemprego preocupa. Principalmente por causa da pandemia. “Anápolis tem vocação comercial e industrial e de serviços e é preciso investir na busca de novas empresas e incentivar as existentes. Anápolis reúne todas as condições para se tornar o maior centro de logística nacional”, afirmou João. Quanto ao futuro, disse que é otimista. “Toda cidade quando quer se desenvolver encontra barreiras. Isso nunca vai ser diferente. Mas somos guerreiros e estamos prestes a experimentar um grande crescimento social e econômico”, finalizou, aproveitando para parabenizar a cidade, em nome de todos os ex-prefeitos, pelo seu aniversário de 114 anos.