De plantão na porta da unidade desde a manhã desta quarta-feira, mulheres e mães de presos cobram notícias sobre o estado de saúde deles
José Aurélio Mendes Soares
Depois que a Diretoria-Geral de Administração Penitenciária (DGAP) anunciou que dois casos de Covid-19 entre os presos estariam em investigação, familiares estão à procura de notícias, em especial sobre o estado de saúde deles. A mulher de um detento, publicou um vídeo nas redes sociais acusando a direção do presídio de se negar a dar qualquer tipo de informação.
Medidas de isolamento da unidade de fato estão em vigor desde o início da pandemia, na tentativa de evitar a contaminação dos presos. Em abril eles chegaram a ficar 15 dias sem receber visitas. Mas a comunicação com a família não havia sido cortada. Agora, através do vídeo, a mulher alega que que o marido, que cumpre pena na unidade, estaria passando mal há 15 dias e que recebeu informações insuficientes por telefone. “Uma enfermeira me ligou, me tratou com descaso e não me disse o que eu precisava saber”, explica.
O mesmo aconteceu com outra mulher na mesma situação. Ela preferiu não se identificar, mas entrou em contato com a redação do CONTEXTO para pedir ajuda. Ela explicou que as famílias estão sendo maltratadas pelos agentes prisionais que fazem a segurança do lado externo do presídio estadual e que a direção da unidade não fornece qualquer informação sobre o que está acontecendo do lado de dentro dos muros.
A mulher declarou já ter escrito mais de 10 cartas para o marido sem ter recebido nenhuma resposta. Segundo ela, existem muitos comentários de que a chamada “cobal”, cestas com alimentos e material de higiene preparadas pela família para serem entregues aos reeducandos, não estariam chegando até eles. “Estão escondendo informação porque a situação lá dentro deve estar muito grave ou até fora de controle. Caso contrário, não haveria essa falta de comunicação com a família”, alega ela.
Além dessa mulher, dezenas de outros familiares de presos deram início na manhã desta quarta a um protesto contra o descaso da direção do presídio. Segurando cartazes e gritando palavras de ordem eles permanecem na porta da unidade pedindo informações sobre possíveis casos de Covid-19 e sobre a situação de saúde de cada detento. Ainda segundo a mulher, o protesto vai continuar até que a direção resolva dizer o que está acontecendo. “Em algum momento isso vai ficar tão estranho que alguém, seja da Justiça, do Ministério Público, do governo ou da Comissão dos Direitos Humanos vai intervir em nosso favor”, relata.
Comissão de Direitos Humanos da OAB

D acordo com o presidente da OAB de Anápolis, Jorge Henrique Elias, familiares entraram em contato com a comissão de Direitos Humanos denunciando a falta de informação. Segundo ele, desde que houve um princípio de rebelião dentro da unidade, a comunicação, até mesmo de advogados com os presos, ficou mais difícil, sendo necessário prévio agendamento.
Mesmo as solicitações de informação sobre os detentos são atendidas parcialmente e sem mais detalhes, tendo que passar pela Diretoria-Geral de Administração Penitenciária (DGAP). Jorge lamentou a situação e lembrou que atitudes desse tipo são vedadas pela Constituição Federal e não contribuem para o processo de ressocialização dos reeducandos. “Esperamos que a normalidade se estabeleça o mais breve possível e que a saúde dos presos não esteja comprometida”, disse ele.
Jorge esclareceu ainda que vai continuar atuando junto à direção do Presídio Estadual de Anápolis na defesa das prerrogativas dos advogados e dos direitos das famílias. “Os presos têm restringido apenas o direto à liberdade, permanecendo os demais, como à dignidade, à saúde e à vida”, lembrou o presidente.