Por Samuel Vieira, reverendo
No dia 14 de janeiro de 2022, faleceu o poeta e jornalista amazonense, Thiago de Mello, aos 95 anos. Ele foi um dos grandes escritores de sua geração. Nascido em Barreirinha, no interior do Amazonas, era um dos poetas mais conhecidos da região e cantou em prosa e verso sua luta pela preservação da maior floresta do mundo. Nara Leão tornou conhecido seu poema ao transformar sua letra em música.
O texto mais conhecido de sua poesia, diz o seguinte: “Faz Escuro, Mas Eu Canto: Porque a Manhã Vai Chegar.” Esta é uma maravilhosa noticia, não é? Saber que a noite não dura para sempre.
Na verdade, os versos de Thiago de Mello parecem inspirados numa antiga poesia judaica, narrada no livro de Salmos, o texto tem um desdobramento interessante no judaísmo: “Porque a sua ira dura só um momento; no seu favor está a vida. O choro pode durar uma noite, mas a alegria vem pela manhã.” (Sl 30.5)
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É um salmo que descreve a bondade de Deus no meio do dor e da angústia. A verdade é que não há dor que dure para sempre, nem luto que não se encerre. Talvez este seja o momento mais difícil da sua vida, pode ser que você já tenha passado por situações ainda mais complexas, olhe para a sua história. A dor não tem o poder de predominar. Assim como o prazer e a alegria, a dor é fugaz e passageira. Amanhã será um novo dia, trazendo esperança e novas expectativas.
Dois personagens bíblicos levaram a sério a questão de cantar na noite escura. Quando chegaram a Filipos, porta de entrada da Macedônia, os apóstolos cristãos, Paulo e Silas foram duramente espancados e jogados numa prisão, esmagados pelo peso da tortura a que haviam sido submetidos. O que fizeram? Surpreendentemente começaram a cantar. Este relato impressionante registrado nos anais da história do cristianismo teve desdobramentos inesperados, levando o carcereiro torturador, a um encontro pessoal consigo mesmo e com Deus. O impacto foi tão imediato, que ele decidiu receber os prisioneiros como hóspedes em sua casa, tratou suas feridas, lhes serviu refeição e tratou de suas feridas. Aquele que causava sofrimento, trouxe medicina e cura.
“Faz escuro mas eu canto.” Não é fácil cantar quando as trevas dominam, quando a dor dita o tom, e a esperança parece desaparecer. Não devemos cantar apenas quando há claridade. É importante ter esperança no caos. Acreditar quando o cenário é nebuloso. Cantar na noite escura, traz luz nas trevas, ilumina os porões menos arejados. Revigora a alma. Cantar em meio as trevas é rebelião, é subversão, é contra-intuitivo. O cenário pode não ser otimista, mas o coração ainda pode se manter elevado, afugentando as trevas, trazendo luz…cantando.
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