Data, comemorada em 18 de Agosto, é uma oportunidade para relembrar sua iniciativa de preservar a história de Anápolis
Data, comemorada em 18 de Agosto, é uma oportunidade para relembrar sua iniciativa de preservar a história de Anápolis. É só chegar na rua Coronel Batista esquina com Travessa Júlio Guerra que você já avista o Museu Histórico da cidade. Um local cujo acervo ecoa a história da famosa Santana das Antas, antigo nome de Anápolis.
O surgimento dele se dá por conta de uma pessoa, o senhor Jan Magalinski. Ele é um polonês, deslocado da Segunda Guerra Mundial. O pai dele foi prisioneiro do regime nazista na Polônia. Jan nasceu no dia 18 de agosto de 1935. E o interessante é que no Brasil, dia 18 de agosto se comemora o dia do historiador. Jan ainda é vivo e mora atualmente em Goiânia.
Quando terminou a Segunda Guerra Mundial, em 1945, Jan e sua família ainda ficaram na Europa por algum tempo. Por causa da guerra, muitas pessoas começaram a sair daquelas regiões em busca de melhores condições de vida.
Itália, França, Inglaterra, Polônia, Alemanha, estavam todas devastadas. Por esse motivo, as Américas eram as únicas esperanças. A família de Jan decidiu partir para América do Sul. Em 1949, chegaram no Brasil e desembarcaram no porto, em São Paulo. Jan Magalinski tinha praticamente de 13 a 14 anos.

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De São Paulo, eles vieram para Ipameri no estado de Goiás. Como não deu muito certo a vida por lá, decidem vir para Anápolis. Ao chegar aqui, Jan tinha um pouco de dificuldade com a língua portuguesa. Para aprender o idioma começou a estudar no colégio Antesina Santana, localizado na rua desembargador Jaime.
Segundo o Coordenador do Museu Histórico de Anápolis, Jairo Alves Leite, 48, a sogra dele era professora do Jan Magalinski.
“O Jan Magalinski estudou junto com meu sogro que se apaixonou pela professora, hoje minha sogra. Os três fizeram um ciclo de amizade e até hoje o Jan considera meu sogro como irmão dele”, ressaltou.
Passados alguns meses, Jan decidiu cursar uma faculdade. Ainda jovem, em Goiânia, ele passou no vestibular para história e geografia, na Universidade Federal de Goiás (UFG).Nesse período de vida acadêmica, Jan conseguiu juntar dinheiro e decidiu fazer uma viagem para a Europa. Pelo fato de ter saído muito novo de lá, queria conhecer os parentes e relembrar de sua cidade.
Durante sua viagem, Magalinski percebeu que na Alemanha e em outras cidades da Europa já funcionavam alguns pequenos museus. Então resolveu trazer essa ideia para Anápolis. Ao retornar para o Brasil, começou a fazer reuniões e traçar estratégias de implantar um museu na Vila Santana das Antas. Jan saiu às ruas a fim de encontrar um local para o museu. As casas ainda tinham uma arquitetura colonial, mas, especialmente, uma chamou a atenção.
Uma casa da época
Era a casa que pertenceu a José da Silva Batista, o famoso Coronel Batista. Construída por volta de 1892, Zéca Batista e a família moraram ali por um bom tempo. Em 1910, Zéca morreu e a esposa ficou na casa até 1930. Em seguida, a residência foi vendida para a igreja católica Santana, a qual implantou um colégio para meninos, por nome de Colégio Paroquial Dom Bosco.
Esse colégio durou poucos anos e foi vendido para o padre Trindade, que passou a morar no local. Ele foi deputado e secretário de educação de Goiás. Em meados de 1930, Trindade se muda para Goiânia e resolve a alugar a casa.

Com o passar do tempo, um outro padre, por nome de Dom Emanuel Gomes de Oliveira, aluga a casa. Esse padre começa a enxergar a necessidade de revitalizar a fé católica em Anápolis. Assim, Dom Emanuel tem a ideia de convidar frades Franciscanos a serem missionários em Anápolis.
Em 1944, os frades alugaram a residência, que passou a ser a sede paroquial. Os frades começaram a pregar o evangelho pela cidade e, aos poucos, conseguiram construir um convento, hoje, localizado ao lado da igreja Santana. E se mudam para lá.
Uma curiosidade é que os frades franciscanos trouxeram para Anápolis retroprojetores, que serviram para aprimorar o cinema na cidade.
Pelo fato dos frades terem conseguido construir um convento, a casa voltou a ter a plaquinha de aluga-se. Mas não demorou muito para ter um novo morador. Em 1950, a casa passa a ser alugada por um ex-prefeito de Anápolis, o professor Eli Alves. Eli morou na casa por um bom tempo. Ficou conhecido na cidade, por ser um candidato que ganhou as eleições sem gastar fortunas.
No final da década de 50, um neto de Zeca Batista, por nome de Alderico Borges de Carvalho, adquire a casa e retorna o bem para a “família”. A casa ficou fechada por um bom tempo. Como ninguém morava lá, Alderico resolveu emprestar a casa para a prefeitura.
Em 1971, cria-se uma comissão para abrir o museu. Esse período foi a hora de arrecadar acervo por meio de doações. Hoje, o museu conta com mais de 2 mil peças.
Livros, jornais, fotografias, objetos ortodônticos e de medicina, máquinas de datilografia caixa registradora, entre outros objetos compõem o cenário do Museu.
Só no dia 26 de julho de 1975 é que, de fato, o Museu Histórico de Anápolis é inaugurado. E o interessante é que nessa data se comemora o dia de Santa Ana.
Em 1987, Alderico, a fim de preservar a memória de seu avô, Zéca Batista, decide doar de vez a casa para a prefeitura. A partir desse momento, o museu passou a ser administrado pelo poder público.
Dificuldades
Segundo Jairo, vários diretores que passaram pelo museu fizeram algumas alterações. Ele relata que a casa possuía um porão e por causa das condições da residência, ele foi totalmente fechado. O assoalho do museu também foi trocado.
“Muitos objetos sumiram. Quando assumi o museu, em janeiro de 2005, havia uma infestação de cupim. A viga baldrame que está na parte da frente do museu estava comprometida. Na gestão do prefeito Pedro Saihum, conseguimos uma verba para restaurar o museu”, afirmou
Jairo lembra que em 2007, por causa do período chuvoso, o córrego Góis que passa abaixo da AV. Brasil, transbordou e arrebentou o asfalto da avenida. Por causa disso, o trânsito foi desviado para a rua que se localiza o museu. Nessa época, o Brasil Park Shopping era construído.
“Muitas carretas com vigas enormes de concreto passavam nessa rua, e as caixas de cupim caiam. A estrutura abalava quando as carretas passavam. Tivemos que chamar o corpo de bombeiros e fazer um escoramento”, ressaltou Jairo.
Projetos
Hoje, o museu pertence a Secretária Municipal de Cultura. Segundo o coordenador do museu, há projetos para ampliar o local e melhorar as condições, mas tudo isso depende das verbas públicas.
“Nós estamos fazendo um estudo, junto a uma universidade do município, para a construção de um anexo ao museu histórico. Nós não temos verbas para adquirir casas próximas e construir esse anexo. E é uma necessidade. É uma casa antiga, que precisa da parte técnica. Precisamos mudar essa sala de pesquisa de lugar. Criar os banheiros com acessibilidade. Um D.M.L (depósito de material de limpeza) e também a sala importante para o museu, que é a reserva técnica”, enfatizou.
Divulgação
Apesar de ser um museu que guarda a história de Anápolis, alguns anapolinos nunca ouviram falar dele. Pedro Henrique, de 27 anos, mora em Anápolis desde que nasceu. Nunca foi ao museu. “Não sabia que Anápolis tinha um museu. Mas agora, depois de saber, com certeza estarei visitando”.
Douglas Castro, de 20 anos, também não sabia da existência deste patrimônio histórico, mas ressaltou que deve ter um grande valor e se mostrou interessado em saber das origens anapolinas.
“Imagino que seja muito importante, pois deve conter muitos fatos e curiosidades sobre o surgimento da cidade. Fiquei com uma certa vontade de conhecê-lo e saber mais sobre o surgimento daqui”.
Na porta do museu existe um livro para assinaturas dos visitantes, mas Jairo afirma que nem todos que passam pelo local assinam. E isso altera o número de visitas ao museu.
“Todo município tem que guardar sua memória, porque se não fica um povo sem passado e sem projeção do futuro” finaliza, Jairo Alves Leite.
Essa casa é linda. Tem que ser preservada a qualquer custo…..