Perguntado se seria ‘otimista’ ou ‘pessimista’ em relação à civilização Ocidental, o padre Tomás Halík responde ser “uma pessoa que luta pela esperança – e como tal rejeita ambas as alternativas com igual determinação”. A princípio me pareceu uma resposta confusa, mas logo ficou esclarecido. O otimista, como reza um antigo provérbio, “é uma pessoa desinformada” que supõe, ousadamente, que “tudo terminará bem”. Falseando a realidade, o otimista acredita que em torno de suas ideias e desejos “brilha o sol da felicidade”. A esperança, diferentemente do otimismo, “é uma força capaz de aguentar também uma situação em que a suposição de que ‘tudo acabará bem’ foi desmascarada como ilusão”, enfatiza Halík.
Nos tornamos consumidores de entorpecentes ideológicos do otimismo. Nossas religiões, e outras instituições afins aderem cada vez mais às ilusões e fórmulas que prometem nos levar à felicidade, que “fazem de Deus apenas uma extensão […] do ego individual” (como salienta o filósofo Zizek em relação ao modus operandi de indivíduos e governos com tendências imperialistas). Esse xibolete vai da repetição automática de um ‘mantra’ até a palavra ‘Jesus’; vai de uma bebida que leva à “expansão da consciência” e à felicidade até o simples frequentar de um templo, ou, ao pagamento de um preço. Na política (com ‘p’ minúsculo), esses ‘entorpecentes’ fazem multidões repetir palavras de ordem, chavões batidos de espertalhões que não enxergam nada além do interesse próprio ou projeto de manutenção ou reapropriação do poder.
Manter uma postura pessimista não é em nada melhor. É apenas o inverso do otimismo. Traz ainda um risco: tornar a pessoa cínica pelo resto da vida. Essa é a tentação dos sábios e estudiosos que já viram muito, já estudaram muito. Talvez por isso, veem tudo como ‘vaidade’, ‘falta de sentido’ e ‘efemeridade da vida’, como o autor do livro de Eclesiastes. Halík faz a seguinte provocação: “Não seria o pessimismo uma ressaca de otimistas desiludidos?”
Se o otimista é um “falsário”, o pessimista é um “traidor da vida, um desertor que foge da luta”. Apesar das muitas ‘notícias de guerra’, com as quais nos deparamos dia a dia, não devemos nos encantar com o mal, não devemos ficar fascinados com a força do mal a ponto de sermos tomados por um estado de letargia – sono profundo. Em épocas de ódio difuso – o Brasil vive isso intensamente nesses dias – tenhamos esperança e não desliguemos aquela instância capaz de, em cada um de nós, mudar a ordem do dia: a consciência.
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