Comemoramos no último 15 de outubro o Dia do Professor. É verdade que depois da pandemia os docentes tiveram que se reinventar e acumularam funções. Os quadros, que sempre foram seus instrumentos de trabalho, hoje estão sem escrita, vazios e sem conteúdo. O ensinamento migrou para as telas e para os aplicativos digitais.
Após quase um ano com as crianças dentro de casa, os professores ainda continuam se reinventando. Foram várias tentativas de gravações. Professores que não tinham essa habilidade em frente às câmeras, hoje precisam se virar para não ficar fora do novo normal. Eles precisaram escrever apostilas, gravar os conteúdos das disciplinas, criar canais próprios nas redes sociais e ainda assim manter o contato com seus alunos e a família de forma online.
Mas o que mais fico pensando é que nunca perguntaram pra eles o que achavam disso tudo, nem deram tempo de aprender, foi na cara e na coragem mesmo. Aceitaram de goela abaixo as novas atribuições e papeis, em diversas modalidades da educação.
Houve uma transformação comportamental dos professores para não perder a conexão com os alunos e manter a aprendizagem. A realidade é que a Covid-19 antecipou o que já iria acontecer em sala de aula. Em conversa, a professora Deusiane Rodrigues nos disse que para não perder os alunos, ela entrou em contato com eles por mensagem e manda semanalmente algumas atividades, aulas e instruções por vídeo e áudio. Os alunos fazem as tarefas no caderno, tiram foto e mandam de volta para ela corrigir.
Os professores tiveram que aprender algo que nunca foi desenvolvido ao longo da vida pedagógica, que foi encarar a tecnologia a curto prazo. Estão usando a sala da casa, cozinha e até o quintal como cenários das aulas, muitos deles até aprendendo sobre iluminação e edição de vídeos.
Tem também o outro lado da educação, o das crianças e suas famílias, elas têm uma grande dificuldade ao acesso à internet, principalmente os alunos das escolas públicas. Acompanho alguns casos de crianças que não tem condições de ter internet em casa e não conseguem acompanhar os amigos da escola e as atividades diárias.
Em tempos de escolas sem aulas presenciais podemos considerar primordial o acesso à tecnologia e a internet. Ter a possibilidade desse acesso é primordial ao conhecimento nos dias atuais, porém muitos desses alunos não tem nem computadores, tablets ou smartphones em casa. Tem muitos professores e escolas pedindo ajuda de voluntários que possam fazer doações desses equipamentos, porém, isso deveria já ter virado política pública.
De acordo com a pesquisa do Instituto Crescer, 46% dos educadores não sabem avaliar se os alunos estão realmente aprendendo com as aulas online. Além disso, 57% sentem-se frustrados ao perceber que, por mais que se empenhem, poucos estudantes aproveitam os conteúdos por falta de infraestrutura.
Apesar de todas essas dificuldades, professores tem se desdobrado para que essas crianças tenham acesso às atividades e não fiquem com um déficit maior do que já é previsto. Há professores que estão gastando seu próprio salário para levar as atividades impressas a esses estudantes.
Esses desafios só mostraram, mais uma vez, o quanto esses profissionais precisam ser valorizados. Eles não são apenas professores, eles são agentes de transformação da nossa sociedade. São pessoas que amam o que fazem, e se reinventam não só em época de pandemia, mas todos os dias para que os estudantes aprendam e adquiram um conhecimento libertador.