Não bastasse a falta de políticas públicas mais eficazes para os protegerem, como assistência à saúde, direitos ao lazer, à segurança, à moradia e outros itens básicos de sobrevivência, os idosos, pelo menos no Brasil, ainda, sofrem outros tipos de discriminação, dentre eles, a intolerância, principalmente (com raras exceções) no ambiente familiar. Em resumo: ninguém tem paciência com os velhos. Ou, quase ninguém.
Mas, é, apenas, a ponta de um iceberg. Histórica e culturalmente, os idosos são vistos, em grande parte, como estorvos e empecilhos para os familiares. Esses mesmos familiares que foram mantidos (muitos, ainda o são) com o fruto do trabalho dos, agora, idosos. Não é incomum deparar-se com casos e mais casos em que familiares (filhos, netos, genros, noras, etc.) são mantidos com o que os idosos acumularam ao longo de toda uma vida, ou, uma simples aposentadoria (até pensão), também, resultado de anos e anos de labuta.
Para comprovar, cita-se que de janeiro a abril deste ano de 2022, houve um registro de 27 mil denúncias de violência contra a pessoa idosa, segundo a Ouvidoria Nacional de Direitos Humanos, o canal oficial de comunicação com o Ministério da Família, da Mulher e dos Direitos Humanos. Durante o período de isolamento social, os números aumentaram expressivamente. Eles só não foram maiores do que os registrados por violência contra crianças e adolescentes, classificando o grupo de idosos como o segundo grupo social mais exposto a sofrer danos a sua integridade.
Com base na tese de que a conscientização é uma das maneiras mais eficazes de contenção, foi estabelecido, em 2006, o Dia Mundial de Conscientização da Violência Contra a Pessoa Idosa (15 de junho), pela Organização das Nações Unidas e a Rede Internacional de Prevenção à Violência à Pessoa Idosa. Em uma tentativa de desacelerar ainda mais e barrar as agressões cometidas a pessoas mais velhas, foi criado pelo Governo Federal, no Brasil, o mês de conscientização e prevenção contra a violência à pessoa idosa, o Junho Violeta. A Lei Federal 10.741 foi criada com a finalidade de assegurar dignidade e respeito às pessoas com idade igual ou superior a 60 anos. O decreto coloca como obrigação da família, da sociedade, da comunidade e do Poder Público, a efetivação do direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, à cultura, ao esporte, ao lazer, ao trabalho, à cidadania, à liberdade, à dignidade, ao respeito e à convivência familiar e comunitária.
O objetivo, também, é de incentivo a uma cultura de paz e harmonia no âmbito familiar. Além disso, visa a garantia de prioridade, como foco no atendimento ao idoso. Contudo, na prática, a norma se mostra ineficaz. Diariamente, as pessoas idosas são vítimas de agressões e preconceitos. Só que, “na prática a teoria é outra”. O que está escrito na lei é muito bonito. Todavia, quase nunca é aplicado. A mídia registra, dia após dia, casos e mais casos de desrespeito ao idoso. Como se esses desrespeitadores, um dia, não fossem ficar velhos também. Isso, se der tempo. Assim, os idosos nacionais continuam a pedir socorro. Mas, quem os socorrerá?