40% dos estudantes da educação básica correm risco de abandonarem a escola por causa da pandemia, aponta o levantamento
Mais de um ano depois do início da pandemia de Covid-19 no Brasil, pesquisa Datafolha encomendada pela Fundação Lemann, Itaú Social e BID mostra dados preocupantes sobre educação a partir da perspectiva das famílias. Para pais e responsáveis, 40% dos estudantes da educação básica não estão evoluindo na aprendizagem, não estão motivados e admitem que podem abandonar os estudos.
Os números também evidenciam as desigualdades históricas do país, agora aprofundadas pela pandemia: enquanto 43% dos estudantes negros estão no grupo de risco de abandonar a escola, esse número cai para 35% entre os brancos.
Em relação às diferenças socioeconômicas, o problema afeta quase metade dos estudantes das famílias que vivem com apenas um salário mínimo, em contraste com os 31% daquelas com renda entre dois e cinco salários mínimos.
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O risco é ainda maior nas áreas rurais (51%) do que nas urbanas (39%) e incide mais na região Nordeste (50%) do que na Sul (31%).
Outro ponto relevante da pesquisa diz respeito ao impacto da pandemia na alfabetização. De acordo com os pais e responsáveis, 88% dos estudantes matriculados no 1º, 2 º e 3 º ano do ensino fundamental estão em “processo de alfabetização”.
Dessa proporção, mais da metade (51%) das crianças ficou no mesmo estágio de aprendizado, ou seja, não aprendeu nada de novo (29%), ou desaprendeu o que já sabia (22%), segundo a percepção dos responsáveis.
Mais uma vez, as desigualdades chamam atenção. No Nordeste, 28% dos familiares disseram que a criança desaprendeu, enquanto no Sul esse percentual é de 17%. A pesquisa mostra ainda que 57% dos estudantes brancos aprenderam coisas novas durante a pandemia na percepção de seus responsáveis – índice que cai para 41% entre os negros.
“O efeito de longo prazo da pandemia do Covid-19 no Brasil será na educação. Uma geração inteira ficará profundamente marcada pela pandemia e o Brasil precisará de múltiplas ações para superar as perdas de aprendizagem. Isso deve ser prioridade para o país”, afirma Denis Mizne, diretor executivo da Fundação Lemann.
“Em um ano de acompanhamento, os dados mostram esforços importantes das redes públicas para oferta do ensino remoto. Entretanto, as desigualdades em relação à qualidade dessa oferta se acentuaram, assim como os riscos de abandono escolar. É urgente para o país estabelecer uma estratégia compartilhada, que traga coerência ao processo, com o compromisso de ampliar as oportunidades aos mais vulneráveis, de modo a recuperar o que foi perdido agora e melhorar os resultados educacionais para as próximas gerações”, avalia a gerente de Pesquisa e Desenvolvimento do Itaú Social, Patricia Mota Guedes.
Reabertura desigual
Segundo os pais e responsáveis entrevistados, apenas 24% dos estudantes tiveram as escolas reabertas (mesmo que parcialmente), mas na região Norte esse índice é ainda mais baixo, de apenas 6%. Somente 16% dos estudantes de baixo nível socioeconômico tiveram escolas reabertas, ante 38% daqueles que estudam em unidades de alto nível socioeconômico.
Outro dado do Datafolha mostra que, entre os estudantes que tiveram a escola reaberta, 40% não foram para a aula presencial. O principal motivo para isso foi algum fator ligado à pandemia. No retorno às escolas, 63% dos estudantes estão sendo avaliados para identificar as suas dificuldades, mas só 29% estão recebendo aulas de reforço.
Entre os estudantes que têm aulas a partir de casa, a dificuldade de manter a rotina aumentou de 58% em maio de 2020, para 69% um ano depois. O aumento foi em todos os ciclos, sendo mais expressivo entre as crianças dos anos iniciais (1º ao 5º ano do ensino fundamental) e da região Nordeste (que passou de 58% para 74%).
Aprendizado
A pesquisa identificou que 96% dos estudantes receberam algum tipo de atividade escolar neste ano, mas isso não se reflete necessariamente na percepção dos responsáveis sobre o desempenho. Para 86% dos pais e responsáveis, o desempenho escolar dos seus filhos antes da pandemia era ótimo ou bom e, agora, esse índice caiu para 59% — uma diferença de 27 pontos percentuais. O baixo desempenho escolar é a principal preocupação deles no caso de alunos que não estão em processo de alfabetização.
Levantamentos
Em um período de um ano (de maio de 2020 a maio de 2021) foram realizadas seis pesquisas Datafolha na série “Educação não presencial na perspectiva dos estudantes e suas famílias”. Esta sexta onda registra a evolução de alguns indicadores da educação remota neste período. As pesquisas anteriores foram em maio, junho, julho, setembro e novembro de 2020.
A pesquisa quantitativa foi realizada entre os dias 22 de abril e 21 de maio de 2021, com abordagem telefônica, com responsáveis por crianças e adolescentes com idades entre 6 e 18 anos da rede pública, em todas as regiões do país.