No mês em que 0 Brasil comemora o centenário do rádio, Anápolis vive um momento de “paixão” com este veículo que ao longo do tempo leva entretenimento, serviços e jornalismo para o interior das residências.
Uma das mais populares invenções do século, o rádio completa o seu primeiro centenário e é, sem dúvida, um dos mais versáteis meios de comunicação de massa.
Tempos atrás, as famílias brasileiras não tinham outro meio de repassar suas informações. Daqui de Goiás, se noticiava lá para o, hoje, Estado do Tocantins, o nascimento de uma Décadas atrás não se ouvia falar no termo Fake News. Mas, alguém espalhou nas ondas do rádio, de maneira fictícia, que o mundo iria acabar.
Com a credibilidade que o rádio tinha, muita gente acabou acreditando. Mas, logo em seguida a notícia foi refeita. E o mundo não acabou.
O rádio exercia e ainda exerce influência muito significativa na formação da opinião pública no mundo, no brasil e, em especial, em Anápolis.
Uma parte dessa história está registrada no livro “Rádio, a história sonora de Anápolis e seus personagens”, escrito pelo saudoso radialista Zé Cunha que foi um dos ícones do rádio anapolino.
De acordo com a publicação, a primeira experiência radiofônica no Município aconteceu no dia 1º de janeiro de 1942, com a instalação da Amplificadora Cultural de Anápolis, uma iniciativa, na época, do juiz de Direito aposentado Abelardo Velasco.
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O estúdio foi instalado no segundo andar do Cine Imperial, na Praça João Pessoa (Praça James Fanstone).
A primeira emissora a entrar no ar, de forma legal, foi a Rádio Carajá, fundada por João Simonetti e seu filho Ermetti. A rádio era conhecida como “a emissora do índio”, em homenagem à tribo dos Carajás.
A lista dos nomes que passaram pela primeira emissora anapolina é grande. Um deles foi Waldir Amaral, que saiu da emissora do índio para o sucesso na, então, famosa Rede Globo, fazendo a transmissão de jogos de futebol.
A Rádio Carajá foi, também trincheira de luta da resistência democracia, através dos irmãos Santillo (Henrique, Adhemar e Romualdo).
“Na madrugada do dia em que José Batista Júnior assumiria a Prefeitura, substituindo a Henrique Santillo, elementos do Departamento Nacional de Telecomunicações – Dentel, acompanhados de integrantes da Policia Militar do Estado, invadiram os transmissores da Rádio Carajá, no Bairro Jundiaí, e seus estúdios, impedindo a entrada dos nossos funcionários à emissora. Assumiram o seu comando por determinação do Ministério das Comunicações e a devolveram a Plínio Jayme. Alegaram que a transferência se dera sem conhecimento do Ministério. Com isso, foi a negociação considerada ilegal. Ficamos nós, do MDB autêntico, sem nosso principal instrumento de comunicação com o povo”.
A narrativa foi extraída do artigo “Rádio Carajá tomada à base de metralhadora”, de autoria de Adhemar Santillo, publicado no Jornal CONTEXTO em 2012. (https://portalcontexto.com/15599-2/)
Mas, a história continua e, em 1958, surgiram novas emissoras: a Rádio Cultura, fundada por Afonso Fraga, Álvaro Fraga e Osvaldo Bernardes e a Rádio Santana, fundada pelos dirigentes da Carajá.
No ano de 1959, no dia em que Anápolis festejava 52 anos de emancipação, entrava no ar a Rádio Imprensa. Fundada por um grupo de empresários do Rio de Janeiro, a emissora foi adquirida em 1964 pelo médico James Fanstone.
Alguns ainda vão se lembrar das noites românticas embaladas pelo programa “Você, a noite e a música”, comandado por Rivaldo Rodrigues. Ou, do Rancho do Jeremias, apresentado por Nhô Jeremias e o “Imprensa Esportiva”, com Miguel Squeff.
Na década de 1990, o radiojornalismo ganhou força, com o comando do radialista e jornalista Nilton Pereira, pioneiro aqui do CONTEXTO.
O rádio anapolino tem “laços fraternos” com as religiões pentecostais e católica, principalmente.
Em 1966, a Rádio São Francisco teve o seu início dando sequência à programação da Rádio Santana. E, em 1971, inaugurou nova fase com programação própria. Frei João Batista Vogel foi um dos principais fundadores e o primeiro diretor.
O jornalismo da São Francisco, na década de 1990, tornou-se uma marca e uma dupla ficou famosa pelo modo de levar a notícia aos lares anapolinos. Luiz Carlos Cecílio e Jairo Mendes comandaram com sucesso o “Bate-Rebate”.
Caçula das Ondas Médias, a Rádio Manchester, fundada pelos irmãos Santillo entrou no ar em 1988. Além de Henrique, Adhemar e Romualdo, a emissora tinha e tem a presença feminina marcante de Onaide Santillo.
Outro nome ligado à emissora foi o radialista Geraldo Divino, que fazia desde reportagens policiais à cobertura das sessões da Câmara Municipal.
Um parêntese, para lembrar a radiojornalismo policial, que teve como um dos principais nomes o radialista Almir Reis e a seu programa “Ronda Policial”.
A partir dos anos 70, começaram a serem instaladas as rádios de Frequência Modulada (FM), que eram em sua maioria ligadas às emissoras do AM.
O livro do radialista Zé Cunha traz dezenas e dezenas de nomes que passaram pelo rádio anapolino. Muitos deles, ainda em plena atividade, como o carismático Evaristo Pereira, o Vavá; o combativo Cândido Filho; o versátil Rubens Júnior; o cara da reportagem policial, Márcio Gomes. Isso, sem contar aqueles que estão na direção, na produção e em outros setores também importantes para o rádio fazer e acontecer.
E, contando com a experiência da chamada “velha guarda”, o rádio anapolino tem ao longo dos anos revelado novos valores como Orisvaldo Pires, Lucivan Machado, Marcos Vieira, Priscila Marçal, Marcelo Santos, Henrique Morgantini, Fernanda Morais.
A lista é enorme e os não citados que se sintam devidamente representados.
Aliás, como não cabe todo mundo, a reportagem traz três testemunhos de profissionais que estão no batente nas principais emissoras anapolinas.
Ouro no rádio
A começar pelo “prata da casa” do CONTEXTO e “ouro” do rádio, Nilton Pereira. Para começo de conversa, são 50 anos dedicados ao rádio.
“Tenho muito orgulho de dizer que entrei num estúdio de rádio pela primeira vez em 1972 e estou até hoje. Já trabalhei em todas as emissoras de rádio da cidade, exceto a Rádio Manchester, e hoje estou na Rádio Imprensa pela terceira vez”, destaca.
Nilton Pereira relembra que era muito difícil fazer rádio alguns anos atrás. Hoje, segundo ele, a tecnologia tem facilitado um pouco mais a vida dos profissionais. Mas, fazer rádio foi e continua sendo uma arte no mundo da comunicação.
“Antes era muito difícil fazer rádio, para as transmissões ao vivo dependíamos de uma linha telefônica mais próxima. Os equipamentos também eram grandes e precisava de muita gente para colocar um programa no ar. As emissoras precisavam de grandes espaços para funcionarem, já que para armazenar tantos discos e fitas, era preciso de salas grandes e um trabalho muito eficiente de arquivo”, lembrou.
Como repórter e âncora, Nilton Pereira já perdeu as contas de quantas personalidades entrevistou: vereadores, prefeitos, deputados, governadores, senadores e presidentes. Isso, só para ficar no campo da política. Além de dar ao seu público reportagens que mostram a cara da cidade de Anápolis. Nestes seus 50 anos de rádio, Nilton é hoje, sem dúvida, uma das principais referências do rádio anapolino. E, certamente, com toda justiça pelo seu trabalho, conhecimento e carisma.
Nova geração
Aos 26 anos de idade, Jonathan Cavalcante faz parte da nova geração do radiojornalismo anapolino, atuando na Rádio São Francisco como repórter e apresentador do programa “Bate-Rebate”.
“Falar sobre a importância do rádio é falar sobre algo que está presente na rotina de milhões de pessoas, no Brasil, em Goiás e em Anápolis, que estão em casa, no trânsito, enfim, estão fazendo as suas atividades com o rádio ligado, como uma espécie de companhia diária para acompanhar as notícias, os programas musicais”, destaca o profissional.
Jonathan pontua que muitas pessoas acreditavam que o rádio poderia acabar, com a chegada da televisão, da internet e mais recentemente, das redes sociais. Mas, ao contrário, diz ele, o rádio vem se fortalecendo como ferramenta de combate às fake News e pela credibilidade na produção de notícias, como ficou evidenciado no período da pandemia.
Inclusive, ele cita que uma das coberturas que mais marcou sua carreira foi a da “Operação Regresso”, dos repatriados de Wuham-China, na Base Aérea de Anápolis. “Ali ainda não tínhamos uma dimensão do que seria essa pandemia. E ali ficamos até na madrugada com a chegada dos aviões da Força Aérea Brasileira, diante os olhares de todo o país e um cenário em que Anápolis esteve na cena internacionalmente”, conta.
Craque da política
Quem ouve rádio e quem gosta de política, é com ele mesmo: Lucivan Machado. Hoje no time da Rádio Manchester, o radialista fala com orgulho da profissão.
“O rádio é um veículo importante não só aqui, mas em todo lugar para informar e formar opinião. Ele é tão importante que quando chegou a internet, todos pensaram que iria acabar. Mas foi o contrário, ele se fortaleceu e é um meio de comunicação de fácil acesso. Você está no carro liga, está fazendo o almoço está ouvindo. E aqui em Anápolis o rádio tem uma força muito grande. Muitos políticos saíram da força do rádio anapolino. Temos um jornalismo forte, que é muito buscado pelas pessoas para se informar seja na área política, policial e em várias outras”, destaca.
Lucivan relata que, ao longo de sua carreira, uma das principais coberturas que fez foi a da tragédia com os romeiros de Anápolis que voltavam de Aparecida, em São Paulo. Conforme lembrou, na época, foi até o local onde aconteceu a tragédia e de lá mandava as notícias, junto com o também radialista André Isac, que eram acompanhadas pelos familiares das vítimas, pois não havia as facilidades de comunicação que se tinha hoje.
Inclusive, vários veículos de comunicação do Estado de São Paulo recorriam às informações que eram levantadas.
“Foi um fato triste, mas que me marcou muito”, resume Lucivan Machado.