Uma série recente da Netflix levanta uma questão contemporânea muito sensível, que tem se tornado objeto de muita discussão no meio científico. Pesquisadores desenvolveram uma técnica que não apenas permite “cortar” o DNA de um organismo, mas, também, escolher com precisão o trecho a ser cortado.
Dessa forma é possível realizar modificações genéticas precisas e específicas nas cadeias de DNA ou mesmo gerar rearranjos genômicos. Certamente, algo revolucionário no campo da agricultura e da pecuária, bem como no tratamento de algumas doenças. A cura de alguns tipos de câncer e até mesmo da cegueira demonstra resultados promissores com a técnica.
“Editando a Vida” é o título do primeiro episódio da série e esta parece ser mesmo a proposta. Por meio da alteração da sequência de DNA será possível eliminar determinadas doenças e até mesmo escolher a cor dos olhos dos nossos filhos. As pessoas poderão ter mais massa muscular, apresentar melhor performance esportiva e eliminar determinadas enfermidades. Mutações gênicas poderão ser “consertadas”. Nesta perspectiva, se uma criança nascer com um gene defeituoso, basta trocá-lo por uma cópia normal. Tudo isso parece muito atraente no primeiro momento.
Leia mais: Nossa bike de cada dia
Em 2018, o cientista chinês He Jiankui apresentou o resultado de um experimento que gerou os primeiros bebês geneticamente modificados do mundo. O pesquisador foi fortemente criticado pela comunidade científica ao assumir os riscos de fazer uma modificação genética em embriões sem cuidado científico e análise prévia de trabalhos. Diante da complexidade biológica e moral, os cientistas propuseram uma moratória para experimentos até que se saiba os reais efeitos desses métodos para toda a humanidade.
As implicações éticas e biológicas são tremendas. Uma pessoa com o gene alterado reproduzirá, para sempre, este DNA. Aberrações genéticas poderão ser criadas para uso militar ou mesmo para competições esportivas. A técnica é considerada relativamente simples e biohackers insistem em acessá-la, assustando a comunidade científica.
O que pode acontecer com as mutações genéticas em seres humanos e animais? É correto tentar construir alguém biônico, cujo DNA foi, para sempre, alterado? É ético “brincar de Deus”, construindo uma nova estrutura biológica para o ser humano? Do ponto de vista teológico, isso me parece uma Torre de Babel. Naqueles dias, conforme a narrativa bíblica, os homens disseram: “Vinde, edifiquemos para nós uma cidade e uma torre cujo topo chegue até aos céus e tornemos célebres o nosso nome.”
O resultado já sabemos: confusão e caos. A raça humana, inescrupulosa e ambiciosa, não tem limites para seus propósitos malignos. A técnica científica de manipulação do DNA pode ser muito positiva e ajudar muitas pessoas, mas seu uso indevido pode ser uma tragédia!