Já é sabido que o mundo do trabalho está mudando, várias profissões vão desaparecer e surgirão novos papéis nos próximos anos. E para esse assunto sugiro você ler um artigo que escrevi cujo título era “Gerações X Profissões”. Porém, independente se a sua profissão continuará nos próximos anos ou não é comum ouvirmos algo assim: “Olá, sou a Maria, jornalista”, ou “O que você é? Eu? Sou engenheiro”, com versões como médico, arquiteta, advogado e etc.
Desde o inicio da pandemia, com o home office a todo vapor, a identidade profissional e pessoal está cada vez mais imprecisa. Como a tendência no retorno pós-pandêmico é manter o modelo atual ou migrar para soluções híbridas, tratar essa separação com cuidado tornou-se central para a saúde mental e a produtividade de todos nós.
Um dos melhores conselhos para a carreira é pensar em profissões como verbos e não substantivos. Dessa forma, a apresentação do início deste texto seria: “Olá, eu sou a Maria e trabalho com jornalismo”. O efeito é positivo mesmo quando a frase é dita apenas para si mesmo, mentalmente. É um método que pode ser usado para ajudar a separar o que a pessoa é do que ela faz para ganhar o pão de cada dia.
O que você vai ser quando crescer? Essa é uma pergunta que todos já fizeram ou já ouviram, desde criança aprendemos a associar nossa identidade pessoal ao trabalho. Cria-se a percepção de que é a profissão que nos faz crescer. E quando você gosta do que faz e é competente fica mais difícil se desligar dessa relação, é algo muito poderoso.
Porém, há bons motivos para você separar os dois mundos. O primeiro é que o dia a dia no trabalho tem altos e baixos e, se sua vida toda estiver focada no trabalho, será uma montanha-russa. Permitir que os problemas de uma das áreas da vida afetem as outras é um risco considerável para a saúde mental, que não aconteceria se houvesse um distanciamento.
Outro benefício direto é o ganho de produtividade. Não adianta sobrecarregar seu cé- rebro com demandas, é preciso um tempo de pausa real do trabalho. Permitir-se um tempo para o lazer, para a família, ajuda a manter a sua concentração. O que significa, muitas vezes, praticar limites que já existem: não responder ligações e e-mails fora da hora combinada, almoçar sem olhar as mensagens. Você coloca esses limites?
Colocar limites não significa deixar de se importar com o trabalho, mas poder ser você mesmo nesse ambiente. Se as pessoas são incentivadas a trazerem seu eu autêntico para o trabalho, devem ser encorajadas também a deixar de fora as partes que não gostariam de expor sem serem penalizadas.
Não importa qual profissão você tem formação, muitas vezes você nem tem o diploma na área que te sustenta, nessa vida não tem profissão que seja tão forte ou importante que venha substituir quem nós realmente somos. Você pode até mudar de trabalho e de profissão. Iniciar um curso e decidir no meio dele fazer outro. Mas você, em sua individualidade, não muda sua essência e quem você é.
No ambiente religioso cristão, entretanto, essa tensão é acrescentada de outro fator: o “chamado”. Entenda-me. Não estou negando que Deus chame e separe alguns para ministérios especiais no Corpo de Cristo, como bem ressaltou Paulo aos Efésios (4:11), mas a mesma passagem diz que o desempenho do serviço cristão é tarefa de todos, e não de apenas desses (Ef 4:12). Portanto, você também não pode se esconder atrás de títulos para dizer que é isso ou aquilo. Essa conquista, luta e trabalho é inerente ao que você é na essência. Tem muita gente ruim, gente sem caráter, sem noção e que diz ser líder cristão.
Resumindo, o que é interessante entender é que não são títulos que nos fazem ser alguém. Você não é sua profissão, seu cargo e seu título. Não é nada disso que determinará quem você é. É importante você ter consciência de que você é mais do que aquilo que você faz.