Fazemos parte, claro, de uma sociedade multicultural e que, por isto, deveria ter padrões éticos minimamente aceitáveis na tentativa de visar uma convivência harmônica.
Quais os elos que poderiam haver entre os fatos que agora lhes narro: a primeira dama dos Estados Unidos é chamada de macaca; a filha adotiva de um jovem e lindo casal de atores é ´convidada´ a voltar para a África; policiais militares invadem a Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro; militantes direitistas histéricos invadem a plenária do Congresso; outros manifestantes, presumivelmente esquerdistas, agridem um repórter nas ruas do Rio e, por fim, e, mais lamentável, um pai se mata após tirar a vida do próprio filho.
Saramago assim se expressa sobre a intolerância, nos ensinando que, em tempos em que a irracionalidade se sobrepuja sobre a razão é impossível proteger a vida. E, quando um ser humano enfrenta outro ser humano, porque crê em outro deus, ou, porque professa outra tendência política, estamos diante de uma guerra declarada, momento em que a intolerância transforma-se em uma brutal realidade.
Quando nos acostumamos com a ideia de que alguém possa ser presidente da maior nação econômica do mundo, os Estados Unidos, pregando um discurso de ódio e de intolerância contra as minorias, começamos a banalizar o mal. Já me referi, aqui mesmo neste espaço, ao julgamento de Eichmann, tão bem retratado por Hannah Arendt: ´um homem normal, bom pai de família, marido exemplar e irmão dedicado´ capaz de cometer as maiores atrocidades na época nazista. Para a pensadora, o mal é banal quando sua justificativa motivacional é inválida, sem profundidade, e incide sobre as massas. O mal encontrado em Eichmann é banal porque não são apresentadas explicações convincentes para seus atos, não há motivação alguma, nem ideológica, nem patológica, nem demoníaca.
Em momentos de intolerância, homens comuns, medíocres, de frases prontas e clichês, se acham capazes de assumir o protagonismo, julgam-se capazes de agredir a outro ser humano, simplesmente pelo fato de ser negro, favelado, muçulmano ou homossexual. Vivemos tempos sombrios, de extremo radicalismo político e social.
Quando falamos de intolerância, normalmente pensamos na intolerância religiosa. Mas existem, sabemos, outras intolerâncias. Sóstenes Alberto da Silva em Intolerância e violência: o desrespeito ao lugar do outro afirma que o viés proselitista de algumas religiões contribuiu para a proliferação dos confrontos de ordem religiosa. Os indivíduos prosélitos julgam-se dominadores do conhecimento de uma verdade absoluta. Tendo isto como ponto de partida, eles aceitam a premissa de que os outros – adeptos de outras crenças religiosas – vivem e apregoam a mentira e a falsidade. Cristãos não convivem com muçulmanos; estes não comungam com judeus; aqueles não toleram os hindus e, assim por diante, todos sem razão, pobre de Deus ou de seus deuses.
E o que dizer de um pai que mata o filho por discordar de suas opiniões políticas? Admitíamos que filhos pudessem matar seus pais, mas quem pensava que um pai pudesse tirar a vida de seu filho? E por motivo tão torpe? Sim, estamos doentes, profundamente doentes.
È preciso indignar-se, não aceitar a intolerância, punir exemplarmente estas bestas que disseminam o ódio, sob pena de, amanhã, acharmos normal um pai tirar a vida do filho.
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