Impossível não chocar-se! As cenas são por demais fortes. Corpos amontoados em meio à sujeira e escombros; prédios arruinados; um país em colapso. Ouso dizer que ouço o choro lamuriante das ruas de Port Prince. Crianças presas a lajes, crianças correndo sem destino pelas ruas, sem pais, sem paz, com dor, com muita dor.
No país mais pobre das Américas, um terremoto com a força de milhões de quilos de dinamite deixa sem abrigo 1/3 de seus habitantes. Nas ruas o horror, corpos jogados, sem lugar para identificação. Tudo isto em um país símbolo da corrupção, da miséria e da barbárie.
Quis Deus puni-los? Por que tanta tragédia em um só lugar? Seria esta a face cruel de Deus? É nesses momentos que se revela a face cruel de Deus, como proclama Tennessee Williams no seu livro, “Noite de Iguana”, quando descreve o sacrifício das tartaruguinhas recém saídas dos seus berços de areia, nas Ilhas Encantadas, para serem devoradas pelas aves de rapina, antes mesmo de chegarem ao mar que seria sua salvação. Por que o Todo Poderoso admite esses sacrifícios?
Será que Deus gosta mais dos californianos, também sacudidos por um tremor de terras absolutamente sem vitimas. Desgosta dos haitianos, pobres miseráveis que vendem seu próprio sangue para terem o que comer?
Mas, e Zilda Arns, por que morrer em meio a tragédia, por que morrer em meio a dor, ao desespero? Também Deus não gostava de Zilda? Tamanha entrega a Deus assim deve ser recompensada? Alguns dizem que se mede a culpa de um pelo sofrimento do outro. Então quão culpados somos nós? Sim, também somos cruéis, também somos culpados. Aliás, ninguém é mais culpados do que nós, ao assistirmos a miséria e nada fazermos para mitigá-la.
Existe um parente, um filho nosso no meio daqueles escombros. Zilda foi chamada e partiu com a consciência tranquila de que muito fez para diminuir a dor e o sofrimento de muitos pequenos. Partiu mas deixou a receita da melhoria das condições de vida de populações carentes.
Não, Deus não é cruel, pois permitiu que sua presença se manifestasse através de pessoas como Zilda Arns que morreu lindamente, ensinando ao próximo como cuidar de nossas crianças.
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