Há dias que chego a andar dez, quinze minutos pelas ruas de Anápolis sem reconhecer uma pessoa sequer. No Terminal Urbano que, regulamente, frequento é a mesma coisa. São incontáveis rostos estranhos. O mesmo acontece quando vou aos shoppings, ao Estádio “Jonas Duarte”, às feiras livres e a outros locais de aglomeração humana. São milhares e milhares de pessoas com as quais cruzo sem, entretanto, ter qualquer relacionamento com elas. Logo eu, que sou nascido e criado em Anápolis e nunca tive vontade de me mudar daqui. Parece um paradoxo. Mas, esta é a realidade.Não conheço mais a cidade onde nasci, me criei, criei meus filhos e estou ajudando a criar meus netos. Anápolis mudou demais.
Com certeza, o progresso (felizmente) chegou, trazendo com ele muitos avanços tecnológicos, urbanísticos e sociais. Anápolis é, hoje, tida como uma das principais comunidades para se viver com boa qualidade de vida e com perspectivas de desenvolvimento social. Bem acima da média nacional, apontam as pesquisas, os estudos e as estatísticas. Temos de acreditar nisso.
São milhares e milhares de estudantes universitários, milhares de trabalhadores na indústria que não para de crescer e no comércio que, sempre, foi um dos mais importantes do Centro Oeste. Temos, todos, de concordar que Anápolis é uma cidade modelo em muitos aspectos.
Ninguém, todavia, pode tirar de mim este sentimento de me considerar um estranho dentro de minha própria casa, ou seja, de minha terra natal. Sinto saudades de quando o transporte coletivo se resumia nas linhas da Fabril e da Jaiara. Do Estádio “Manoel Demóstenes” (engraçado que não tínhamos um bom estádio, mas tínhamos três bons times). Às vezes me recordo, com certa nostalgia, dos quatro bons cinemas que existiam (Santana; Vera Cruz, Imperial e Santa Maria). Quem não se recorda deles? Por que foram desativados?
A memória faz-me lembrar de, apenas, quatro ou cinco revendas de veículos (Companhia Silva Duarte, revendedora Ford; Companhia Comercial de Automóveis, revendedora Chevrolet; Automáquinas Ltda., revendedora Willys e Berocan S/A, revendedora Mercedes Benz). Hoje, são dezenas delas. Recordo-me, ainda, das praças Bom Jesus; Santana; James Fanstone; Americano do Brasil, todas modificadas com o correr do tempo, perdendo as características originais. Há quem diga que ficaram mais bonitas.
Muitas outras coisas da Anápolis da minha infância desapareceram no tempo. Mas, permanecem vivas em minha lembrança. As belas estudantes do Colégio Auxilium; a disputa das fanfarras do Estadual e do São Francisco no desfile do Sete de Setembro; os jogos inesquecíveis entre Ipiranga e Anápolis (às vezes com a Anapolina, naquela época chamada, apenas, de Associação). Não posso negar que minha cidade evoluiu muito. Não posso ficar contra o progresso, nem contra a história. Mas, posso me dar ao direito de lembrar-me de uma época extraordinariamente feliz de minha vida. Aquela Anápolis de 50, 60 anos atrás, não sai da minha memória.
Mas, do fundo do meu coração, desejo que Anápolis siga sua jornada, continue crescendo, com qualidade, oferecendo a quem aqui nasceu, ou para aqui veio, o ambiente propício para viver longos e férteis dias de muita prosperidade. De minha parte, agradeço a Deus por haver permitido que aqui eu nascesse e desfrutasse, até hoje, desta maravilhosa cidade.
É amigo Nilton Pereira. E as pessoas se distanciam cada dia mais. Nos sobrou a resenha diária no Café da Vovó, o Catetinho; assim batizado por sua senhoria.