A filosofia de Arthur Schopenhauer (1788-1860) é caracterizada pelo pessimismo: a crença de que a vida é essencialmente sofrimento e dor e que a vontade, força fundamental que impulsiona a vida, é a causa do sofrimento.
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Uma de suas afirmações mais controversas e conhecidas é a de que “o homem é livre pra fazer o que quer, mas não para querer o que quer”, fazendo, assim, distinção entre vontade e ação. Segundo ele, a vontade é a força fundamental que impulsiona a vida, uma força cega e irracional que determina nossos desejos e motivações.
Ainda conforme o filósofo alemão, apesar de ser tão central no ser humano, a vontade também é a raiz do sofrimento, pois leva o homem a buscar, incessantemente, a satisfação de seus desejos – o que gera frustração e dor.
Schopenhauer concluiu que a ação é a capacidade de realizar a vontade, mas o problema estaria no fato de que, mesmo sendo livres para fazer o que queremos, nossa vontade é cativa de experiências vividas e acumuladas. Mesmo sendo livres para agir dentro dos limites impostos por nossas circunstâncias e capacidades e de podermos escolher, somos prisioneiros e não escolhemos o que queremos, já que nossa vontade estaria limitada a forças maiores e mais profundas.
O estudioso dá um exemplo. Imagine que você está com sede. A vontade é o desejo de beber água. A ação é ir até a geladeira e pegar um copo d’água. Você é livre para escolher entre beber água ou suco, mas não é livre para escolher não sentir sede. Embora tenhamos a capacidade de agir no mundo, nossos desejos e motivações são determinados por forças que estão além do nosso controle.
O pessimismo de Arthur Schopenhauer pode ser considerado excessivamente negativo e sua filosofia é vista como determinista ao negar o livre arbítrio. Mas, esta mesma discussão é encontrada na frase de abertura do livro Do Contrato Social, do filósofo suíço Jean-Jacques Rousseau (1712-1778), que diz que “o homem é livre, mas por todos os lugares encontra-se algemado.”
Para Rousseau existe um dilema entre liberdade natural versus servidão social. O homem nasce livre e possui esta liberdade inalienável que se manifesta na capacidade de agir de acordo com a própria vontade, sem restrições externas, entretanto, há uma servidão social.
Assim, ao fazer parte de uma sociedade, o homem se submete a leis e normas que limitam sua liberdade natural. Essa servidão social pode ser vista como uma forma de alienação da liberdade original.
É interessante notar que este é também um dilema central na vida do apóstolo Paulo. Vendo-se acossado pela dura realidade do seu pecado, Paulo afirmou: “Miserável homem que sou, quem me livrará o corpo desta morte? Porque tenho o desejo de fazer o que é bom, mas não consigo realizá-lo. Porque não faço o bem que eu quero, mas o mal que não quero, esse faço. Mas, se eu faço o que não quero, já não sou eu quem o faz, e sim o pecado que habita em mim.”
No pensamento cristão, apenas Deus pode nos livrar da vontade degradada e corrompida, uma vez que, a mesma vontade que liberta também aprisiona. Infelizmente, Schopenhauer estava certo: “O homem é livre pra fazer o que quer, mas não para querer o que quer.”