Estudos apontam que a escassez tem tudo a ver com a destruição do bioma Cerrado, que tende a desaparecer em 30 anos
Nilton Pereira – Com agências
A possibilidade de faltar água doce para os reservatórios das usinas hidroelétricas e, até, para o consumo doméstico, mais uma vez, acendeu o sinal de alerta nas regiões Sudeste e Centro Oeste. E, justamente, no Centro Oeste, onde ficam as principais nascentes das maiores bacias hidrográficas do Brasil. E, tudo tem a ver com a devastação do Cerrado Brasileiro, que, segundo estatísticas, a continuar sendo destruído na velocidade ora registrada, pode desaparecer, por completo, até 2050. Portanto, daqui a menos de 30 anos.
O Governo Federal (assim como os governos estaduais) já sinaliza com a falta de energia e a consequente ativação de outras fontes geradoras, como a que utiliza óleo diesel, já que a energia nuclear, ainda, é um sonho distante no País. Da mesma forma, as energias eólica e fotovoltaica, caminham a passos muito lentos. E, com a retomada de economia, consequentemente, com o aumento no consumo de energia elétrica, teme-se que a produtividade nacional seja altamente prejudicada. A proposta de se priorizar a água para a dessedentação de animais e, para tarefas não industriais, coloca em xeque, também, o crescimento econômico nacional, depois do desastre causado pela pandemia da covid-19.
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E, tudo isso tem a ver com a destruição do Cerrado, pois, há décadas, a produção de água, tem sido, cada vez, menor. As represas e os grandes reservatórios, entra ano, sai ano, não conseguem voltar aos níveis anteriores. Estão, cada vez, mais vazios, numa ameaça concreta de que, se algo não for feito, imediatamente, para impedir o desperdício e iniciar-se um projeto de recuperação desses mananciais, as consequências serão imprevisíveis. Para o Centro Oeste, que vislumbra um grande crescimento econômico, será um desastre. Indústrias, lavouras que utilizam irrigação mecanizada, crescimento urbano e outros fatores naturais, não terão como desenvolver na sua plenitude.
Degradação do Cerrado
É sabido que até meados dos anos 50, o Cerrado Brasileiro estava, praticamente, intacto, notadamente no Centro-Oeste. Mas, durante a segunda metade do século 20, após a construção de Brasília, a região vivenciou um crescimento exponencial. E, nos últimos anos, a partir da década de 70, o avanço do agronegócio, a urbanização e a ocupação desordenada dos espaços, causaram um impacto ambiental de níveis alarmantes. De acordo com o Ministério do Meio Ambiente, o Cerrado perdeu 46% de sua vegetação nativa e, apenas, cerca de 20% permanecem intocados. Para piorar, sabe-se que este bioma é a área com a menor proteção ambiental no Brasil, pois, apenas, 8,21% de suas terras estão dentro de unidades de conservação. E, segundo dados oficiais, fora desses espaços, a destruição do habitat natural tem sido intensa.
A avalição de especialistas no tema aponta que, se a taxa de desmatamento continuar nesse nível, a vegetação nativa do Cerrado deverá ser completamente destruída até 2050. Isto significa que, além da perda de biodiversidade, o fim desse ecossistema resultará na extinção dos grandes mananciais de água do Brasil. As consequências já são visíveis. Em média, dez pequenos rios do Cerrado desaparecem a cada ano e deixam de alimentar outros afluentes e impactar o volume de todo o sistema.
Também, é comprovado que, enquanto ocorre esse fenômeno, registra-se um aumento rápido do consumo de água por causa da ação humana. Em 2016, com a falta de chuvas nas nascentes do São Francisco, o reservatório de Sobradinho, na Bahia, viveu a maior seca de sua história. No mesmo ano, em Goiás, o Rio Araguaia nunca esteve com um volume tão baixo e muitos afluentes secaram. E, em Minas Gerais, nada menos que 500 cursos d’água sumiram durante a estiagem que marcou o período. As pastagens de gado e a produção agrícola já desmataram grandes áreas de vegetação do Cerrado. O agronegócio é a principal ameaça. Com a introdução da monocultura em grandes extensões de áreas, como a soja, o eucalipto, a cana-de-açúcar, o algodão ou o milho, as plantas nativas foram substituídas por vegetais com raízes extremamente superficiais. Um planejamento mais sustentável da lavoura poderia amenizar esses impactos. É o que dizem várias pesquisas sobre o assunto.