Vander Lúcio Barbosa
Eram tempos do Jardim de infância. E, pela primeira vez, aos cinco anos de idade eu iria interagir com uma plateia. Eu fora escolhido para o que seria, até os dias atuais, o maior e o mais marcante desafio de todos eles. Representando um exército de “pequenos capetinhas” da escola, eu teria que homenagear a mais importante personalidade de que se ouvira falar até aquele dia, e também, nos tempos atuais.
Minha apresentação consistiria em cantar para um grupo de senhoras uma canção ensaiada por dias. Chamado solenemente à frente, lembro-me, ainda, como se fosse hoje e que, tremendo feito vara verde, me postei diante do público para entoar uma canção que dizia: “Mamãe estou tão feliz, por que voltei pra você; Alguma coisa me diz, que hoje eu volto a viver. Penso feliz ao seu lado…”. Era uma solenidade alusiva ao Dia das Mães.
Hoje, entendo que a letra da música não retrata a realidade vivida por crianças de cinco, sete, nove anos. Que filho se desgarraria, por vontade própria, de sua mãe e estaria de volta para ela nesta idade cantando coisa igual?
Vida que se segue e, hoje, quando milhões de mães mundo afora se alegrarão com homenagens de seus filhos, outras milhares e milhares de mãezinhas estarão chorando, entristecidas, vivendo o fel da ausência de sua mais importante criação e, para a grande maioria delas, o que seria a única razão de seu viver.
Certo é, que todos os dias filhos são devolvidos à Deus, alguns se tornam estrelinhas; outros, nem tanto, infelizmente! Existem daqueles que foram tirados de suas mães pela droga, pelos príncipes do tráfico. Outros se ausentaram do lar em busca de um novo mundo, fugindo, talvez, da fome… E muitos desses desapareceram sem qualquer explicação, por puro desamor, muito comum nestes dias de apocalipse.
Que bom seria que, se pelo menos um desses “desaparecidos”, pudesse voltar cantando para a sua mãezinha: “Penso feliz ao seu lado, viver distante por que?; Mamãe, só pra você eu cantarei agora. Mamãe, a solidão foi para sempre embora. Essas palavras de amor, que digo nesta canção, creia, mãezinha querida, nascem no meu coração…”.
Feliz e abençoado Dia da Mães, mamães que se separaram, mesmo que temporariamente, de seus eternos filhos. Um dia, acreditem, vocês reencontrarão os seus bebês em um lugar aonde tudo será só alegria!