Aumento da temperatura, extinção de nascentes naturais e desmatamento, foram causas determinantes
Não é figuração, ou, lenda… Anápolis já foi considerada uma das cidades mais frias do Centro Oeste. Até o final dos anos 60, a temperatura média no Município girava em torno de 21 graus centígrados. Hoje, é de 26 graus centígrados. Os anapolinos experimentavam as chamadas “invernadas”, com períodos de chuvas que duravam semanas e, até, meses, ininterruptamente. Com isso, tanto a zona urbana, quanto o meio rural, não tinham qualquer preocupação com a falta de água potável. Isto, devido a alguns fatores geográficos: Mesmo estando numa região de planalto (1.160 metros acima do nível do mar) Anápolis tinha vários mananciais de água praticamente pura, embora não contasse (como não conta nos dias atuais) com grandes cursos d’água. Mas, eram muitos.
O que determinava tal situação era uma extensa e salutar cobertura vegetal, principalmente do Cerrado Nativo, de onde, até hoje, brota grande parte da água no Centro Oeste. Mas, a corrida imobiliária, com o surgimento de dezenas de bairros (entre as décadas de 70 e 90, Anápolis ganhou mais de 150 novos núcleos habitacionais), conjuntos residenciais e, por último, os condomínios, foi a causa determinante para a diminuição das áreas verdes e, consequentemente, o aumento da cobertura com asfalto, concreto e outros pavimentos. Dezenas de minas nativas e nascentes de água, foram cobertas por edificações.
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O enfraquecimento ambiental trouxe várias consequências, dentre elas, o aumento da temperatura ambiente. Hoje em dia nem se fala, mais, nas geadas e nas “invernadas” que ocorriam em Anápolis. Muito pelo contrário, há um clamor generalizado por conta do calor que, a cada ano que passa, aumenta assustadoramente. Parte disso, claro, tem como fator determinante o chamado “Aquecimento Global”. O Centro Oeste (isto inclui Anápolis), também, sofre os efeitos climáticos que têm determinado o aumento da temperatura e a consequente diminuição de água natural.
Aquecimento
Segundo a coordenadoria do programa Cerrado e Caatinga, do Instituto Sociedade, População e Natureza, que integra a Rede Cerrado, o desmatamento acelerado impacta, tanto a frequência de chuvas, que tem diminuído nos últimos cinco anos na região, quanto na capacidade do solo de absorver e armazenar a água no subsolo e devolvê-la para os rios. A mudança do uso da terra altera, demais, o ciclo da água e faz com que haja menos água nos rios, os rios muito assoreados e menor disponibilidade de chuva. Assim, o ciclo da água está em um pequeno colapso.
Além disso, projeções do Painel Brasileiro de Mudança Climática apontam que nas próximas três décadas o bioma Cerrado poderá ter aumento de um grau centígrado na temperatura superficial, o que vai resultar em uma diminuição percentual entre 10% a 20% da chuva. Ou seja, as perspectivas não são, nada alvissareiras. E, cada vez mais, as populações urbanas se distanciam dos mananciais, o que, efetivamente, torna o acesso à água potável mais oneroso, mais trabalhoso e mais difícil no aspecto geral. O crescimento demográfico/urbano desarticulado, descontrolado e desorganizado da maioria das comunidades não deixa margem para se prever como será o abastecimento no futuro próximo. (Dados da Agência Brasil).
Realidade local
No caso de Anápolis, por exemplo, em que pese o trabalho político/administrativo em busca de um caminho racional para o problema, é sabido que levar a água potável tratada às residências e estabelecimentos ligados à economia é muito mais problemático do que vinte anos atrás. Primeiro, porque a população aumentou bastante. Depois, porque as reservas aquíferas diminuíram em quantidade e em qualidade. Os moradores mais antigos da Cidade se recordam que, até os anos 70, a água distribuída para a população era captada numa represa (Represa Fanstone) onde, hoje, está o Central Park “Onofre Quinan”, a menos de dois quilômetros da Praça Bom Jesus. O sistema, antes operado pela Prefeitura (Superintendência Municipal d de Saneamento – SUMSAN) – foi repassado ao Governo Estadual, via SANEAGO que redirecionou a captação de água no Ribeirão, região Noroeste do Município, distante 15 quilômetros do centro urbano.
Mas, o Sistema Piancó, já de alguns anos, tem demonstrado exaustão e já não corresponde à demanda. Na década passada fez-se um arranjo e a região Sudoeste da Cidade passou a receber água tratada do Sistema DAIA, alimentado pelo Ribeirão Caldas, tendo em vista o excesso da água ali tratada. Todavia, este sistema, também, tem demonstrado, ao longo dos últimos anos, que não tem mais como suprir a carência do Sistema Piancó.
Assim, em caráter emergencial, optou-se por captar-se água do Córrego Anicuns, que é tributário do Piancó. Mais uma vez, o paliativo não prosperou e a SANEAGO decidiu por se socorrer no Ribeirão Capivari, alguns quilômetros adiante, que, por sinal, corre no Município vizinho de Abadiânia. Ao lado disso, a Empresa determinou a perfuração de dezenas de poços artesianos para se alimentarem as redes distribuidoras. Mas, o lençol freático de Anápolis não correspondeu com a produção de água prevista.
Principal esperança
A última medida a ser adotada teve a divulgação recentemente. Será a formação de uma represa, ou barragem, para o acondicionamento de água capaz de garantir o fornecimento à Cidade. Todavia, mesmo com os mais avançados recursos tecnológicos, sabe-se que a formação de uma represa do porte da anunciada levaria muito tempo, anos até. Ela depende, primeiro, de grande soma em recursos financeiros. Depois, do RIMA (Relatório de Impacto Ambiental), seguido de desapropriações das áreas particulares, indenizações, reassentamento de famílias e outros projetos que podem durar muito tempo. E, a demanda por água é urgente e emergencial. Por isso, além das providências anunciadas para médio e longo prazos, a SANEAGO precisa resolver, imediatamente, a falta de água no atual contexto. Isto, porque, certamente, Anápolis não vai estacionar no tempo e esperar pela conclusão das chamadas grandes obras. E, para crescer, a oferta de água é fundamental e imprescindível. Este, por certo, é o maior desafio dos governos (Estadual e Municipal) e da sociedade organizada a partir de agora.