Entre as curiosidades da história dos dois está o fato de morarem no mesmo lugar desde o casamento
Só quem já viveu esse tempo sabe o que são 70 anos. É praticamente a média de vida de vida do brasileiro. Pois é esse tempo que um casal de Anápolis acaba de completar junto esse mês, vivenciando uma rara bodas de vinho. Alcides José e Silva, de 91 anos e Elmira Vieira da Silva, de 90, nasceram na cidade e moram na mesma casa desde a união, em junho de 1951.
Bastante lúcidos, eles acabaram de renovar seus votos de casamento, na fazenda Retiro, que fica no Daia, tendo como testemunha o frei João Rodrigues, da igreja São Sebastião. “O casamento sempre foi nosso bem mais precioso, mesmo antes de completarmos o primeiro ano juntos”, disse Alcides na ocasião. Já Elmira, revelou que, ao contrário do que ocorre hoje entre marido e mulher, sua admiração pelo companheiro apenas aumentou com o tempo. “Só a morte vai nos separar, assim como deve ser”, afirmou ela.
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Com a chegada da pandemia à Anápolis, em março de 2020, os dois se isolaram na propriedade rural, recebendo raras visitas, principalmente da família, que já está enorme. Eles tiveram quatro filhos. O menino, morreu aos sete anos. As três meninas, Euzenir, Edir e Vera lhe deram 10 netos, 20 bisnetos e um tataraneto. “Para eles, nós somos o prêmio pela persistência e sabedoria em lidar com sucesso com a vida à dois”, resume a neta Karina Garcia.

O prêmio não é só pela presença dos sucessores, mas pelo exemplo que seguiram. Euzenir e Edir já fizeram Bodas de Ouro, com 50 anos de união, enquanto Vera, a caçula, casou-se há 43. “Eles foram uma influência muito forte na nossa formação e sempre sonhamos em encontrar na vida adulta uma realidade que se espelhasse naquilo que nos ensinaram. Respeito, tolerância, diálogo, amor e um firme compromisso de nunca se separarem. Felizmente, isso aconteceu também conosco”, narrou Euzenir.
O encontro
Alcides viu a mulher pela primeira vez aos 21 anos, durante a visita à uma fazenda vizinha, também na região onde hoje fica o Daia. Segundo ele, a visão de Elmira foi suficiente para que ele tomasse uma decisão. Procurar o pai dela para pedir a mão da filha em casamento. Não foi fácil. “O meu sogro era um homem muito rígido. Vocês não fazem ideia de como eram as coisas antigamente”, relembrou Alcides. Mas, depois de verificar que tratava-se de uma pessoa íntegra e de boas intenções, o pai permitiu que ele se aproximasse. O casal se deu muito bem e em seis meses os dois namoraram, noivaram e se casaram.
Segredo
Como não podia ser diferente, o CONTEXTO questionou sobre o segredo para ter uma vida tão longa juntos. Alcides respondeu que a modernidade trouxe coisas incríveis. Soube dizer que a expectativa de vida do brasileiro, quando se casou, era de apenas 45 anos. “Temos mais saúde, mais conforto, mais tecnologia, mais tempo, mais liberdade. Mas temos menos amor, menos tolerância, menos compromisso e menos união. É por isso que os casais se separam”, ponderou Alcides.
Elmira lembrou que as mulheres não tinham o espaço e o valor de atualmente na sociedade. Eram reconhecidas principalnente como mães e donas de casa, o que também era importante. “Cumpri o meu papel com muita dedicação e, à medida em que as coisas foram mudando, eu e o Alcides fomos nos adaptando, mas sem fugir ao nosso compromisso para com o outro. Sempre houve muito respeito e sempre tivemos uma grande responsabilidade para com a nossa família”, disse ela.
Mas, segredo mesmo, o casal revelou estar no exemplo e no diálogo. O que passaram aos filhos é que o casamento não é algo fácil e que não deve haver ilusões, mas sim, uma percepção aguçada para aprender com cada dificuldade. Uma narrativa que Karina ouve desde pequena. “Vencer os desafios com o compromisso de permanecer unido faz o casal mais forte, mais adaptado, mais inteligente e maduro. É esse o segredo para uma base forte. Uma vez construída, o resto dificilmente vai ao chão”, explicou a neta.