Chapu Matis detalhou os desafios da inserção indígena no ensino superior e a necessidade de reconhecimento das culturas e epistemologias indígenas no contexto acadêmico
A presença indígena no ambiente acadêmico é marcada por desafios, mas também por uma riqueza única de saberes que, muitas vezes, se confrontam com as lógicas da ciência tradicional. Chapu Sibo Matis, acadêmico do 5º período de Enfermagem da Universidade Evangélica de Goiás (UniEVANGÉLICA), compartilhou sua experiência e reflexão sobre essa trajetória durante sua participação no “4º Narrativas Interculturais”, realizado na Universidade de Brasília, entre os dias 5 e 8 de dezembro. Juntamente com o professor Marcos Flávio Portela Veras, coordenador do Núcleo de Estudos sobre Culturas e Etnodesenvolvimento (NECE), Chapu apresentou o trabalho “Novos códigos, preconceito e troca de saberes: reflexões sobre a presença indígena na universidade”, onde detalhou os desafios da inserção indígena no ensino superior e a necessidade de reconhecimento das culturas e epistemologias indígenas no contexto acadêmico.
Chapu, membro do povo Matis, do Vale do Javari, no Amazonas, relatou as dificuldades enfrentadas na adaptação à lógica científica acadêmica, muitas vezes distante da sua própria forma de ver o mundo. Ao falar sobre sua trajetória, Chapu enfatizou como o conhecimento indígena, especialmente na área da saúde, pode enriquecer a ciência convencional. “Participar de um evento como esse é fundamental para nosso fortalecimento acadêmico e cultural. Ao compartilhar nossos desafios e conquistas com outros indígenas e universitários, percebi o quanto temos em comum na luta diária pela nossa inclusão e pelo reconhecimento de nossos saberes”, afirmou o estudante.
A participação de Chapu é um reflexo de um trabalho contínuo realizado pela UniEVANGÉLICA, que há anos apoia o ingresso de alunos indígenas através de um programa especial de bolsas de estudo. Chapu faz parte de um grupo de 14 alunos indígenas de diferentes etnias, que chegaram à instituição com a expectativa de retornar às suas comunidades para aplicar os conhecimentos adquiridos. Seis desses alunos já concluíram seus cursos e retornaram às suas regiões, especialmente para atuar na área da saúde em estados como Amazonas e Mato Grosso, destaca o professor Marcos Flávio.
Segundo ele, essa troca de saberes entre alunos indígenas e a comunidade acadêmica tem sido uma experiência enriquecedora para todos. A universidade tem incentivado esses estudantes a compartilhar suas vivências e conhecimentos, promovendo o reconhecimento das diferentes epistemologias. Além disso, a instituição realiza anualmente a Semana dos Povos Indígenas, que proporciona aos alunos e professores uma imersão no universo cultural indígena e nos desafios enfrentados pelas comunidades.
O “4º Narrativas Interculturais” foi uma oportunidade para fortalecer o diálogo entre as diversas formas de saberes e práticas, reafirmando a importância de espaços acadêmicos que promovam a decolonização do conhecimento e o reconhecimento das culturas indígenas. “A experiência de Chapu Matis e de outros estudantes indígenas mostra o impacto positivo desse tipo de intercâmbio, onde a luta por inclusão e valorização das tradições indígenas se alia à busca pelo reconhecimento no ambiente acadêmico”, completa o coordenador do NECE.
Junte-se aos grupos de WhatsApp do Portal CONTEXTO e fique por dentro das principais notícias de Anápolis e região. Clique aqui.
Leia também: O mistério do Chester! Como surgiu a ave natalina?