Por Moacir de Melo
“Solo le pido a Dios” é o nome da música que a internacional cantora e ativista política Mercedes Sosa (Argentina 1935-2009), acompanhada da brasileira Beth Carvalho, cantaram e encantaram e a levou para o mundo, com as lindas vozes que tinham. A letra é um hino de quem não quer se calar diante das injustiças à sua volta. Uma síntese dos versos: “Eu só peço a Deus/Que a dor não me seja indiferente/Que a injustiça não me seja indiferente/Que a guerra não me seja indiferente/Que a mentira não me seja indiferente/Que o futuro não me seja indiferente”… Vale a pena vê-las cantar, rezar com elas e pensar um pouco. Evidente que esta música nunca fez e nem fará sucesso por aqui, em nosso Brasil varonil.
Sim, em terras tupiniquins, é mais fácil, e sempre foi mais gerador de emoções e de sucessos, cantar o avesso ao pedido de que encerra a letra da música. Entre nós, o pedido era, e continua sendo, obter um pouco de malandragem” (Cássia Eller), até porque, o sucesso, por aqui, normalmente acontece, no mínimo, com um pouco de malandragem. A exaltação ao malandro e à malandragem, contudo, vem de longe. Nos anos 70, século 20, Chico Buarque já exaltava o malandro (carioca) em letra e música: Trecho: novo malandro/o malandro profissional/oficial/candidato a malandro federal/Mas o malandro para valer/não espalha/aposentou a navalha/Diz a más línguas que até trabalha. (Homenagem do Malandro). Nosso maior comunicador de TV, recém falecido, Sílvio Santos, também criou o personagem do malandro em seus programas humorísticos do passado. Sucesso! (Malandro, Sérgio).
A exaltação, contudo, deixa marcas fortes. Afinal, dignificar a malandragem que significa ganhar um conjunto de artimanhas utilizadas para se obter vantagem em determinada situação, ainda que ilícitas, através de espertezas para não trabalhar, acreditar em almoço grátis, dentro da ótica do “gosto de levar vantagem em tudo”, a famosa lei do Gerson, não deveria merecer exaltação. Lá do eterno, onde se encontra Mercedes Sosa, com certeza, sua indignação continua viva com tal situação, de olho em nós e pedindo a Deus por tudo o que a letra da música nos mostra. Vale a pena ouvi-la.
“O contrário da paz não é a guerra, a violência, a luta. O contrário da paz e a OMISSÃO. O que me assusta não é o grito dos homens maus mas o silencio dos bons” afirmava Martin Luther King em cada discurso que pronunciava. O que podemos fazer diante da conjuntura de que os homens de bem são lentos, ficam enrolados em burocracia, em reuniões improdutivas que todos esquecem no dia seguinte, enquanto os homens do mau são rápidos, trocam dois olhares e formam uma quadrilha para assaltar, matar, destruir? Com certeza, sair da omissão. Dar nosso grito de alerta. Posicionarmo-nos a favor do bem. Até porque “no inferno, os lugares mais quentes estão reservados para os omissos aqui na terra”, garantiu Dante Alighieri (1265-1321). Omissão é o pior dos males!
Cá do meu lado, com eleições municipais chegando, devaneios ou não, eu só peço a Deus, além dos expostos por nossa cantora citada, que ilumine nossos eleitores a escolher candidatos que carreguem a bandeira da Educação de Qualidade em primeiro lugar. Sim, se cada um de nós, cidadãos da nação brasileira, eleitores do bem dos 5.570 municípios brasileiros, optarmos por políticos que levam consigo a bandeira da educação de qualidade no ensino básico, teremos uma chance de diminuir as desigualdades sociais em alguns anos.
Verdade, não temos alternativa a não ser optar pela Educação de Qualidade nos ensinos fundamental e médio profissionalizante. Afinal, são as únicas oportunidades que temos para desenvolver nossa nação. São caminhos já testados mundo afora. Acho oportuno, portanto, que façamos coro com Mercedes Sosa e Beth Carvalho. Rezemos ou cantemos juntos: OH! Meu Deus! Nós só te pedimos que não nos deixem calar diante das injustiças que aumentam as desigualdades sociais em nossa nação, que a mentira não nos seja indiferente, que o futuro de nossos povos não nos sejam indiferentes; que não sejamos indiferentes em nada; e que nossos eleitores escolham candidatos que têm o DNA educação.
QUE ASSIM SEJA. AMÉM!