O guia não se limita à saúde individual. Ele enfatiza a importância de uma alimentação que preserve a cultura alimentar tradicional e minimize os impactos ambientais. A coordenadora Kelly Alves explica que as diretrizes do documento buscam orientar as escolhas alimentares com clareza, sem adotar uma postura rígida de “proibido ou permitido”. O foco está em promover alimentos naturais e minimizar o consumo de ultraprocessados, que, além dos malefícios à saúde, trazem prejuízos ao meio ambiente e à vida social.
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Impactos negativos dos ultraprocessados
Alimentos ultraprocessados são produzidos em larga escala, utilizando ingredientes como açúcar, gorduras e aditivos químicos. A popularidade desses produtos se deve, em grande parte, ao baixo custo, conveniência e forte apelo publicitário. Contudo, a expansão do consumo desses alimentos representa um risco crescente à saúde pública. De acordo com o Sistema de Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas (Vigitel), em 2023, 16% dos homens e 12% das mulheres em Goiânia consumiram cinco ou mais tipos de alimentos ultraprocessados no dia anterior à pesquisa.
Esses alimentos também prejudicam a cultura alimentar. Suas campanhas publicitárias globais criam uma sensação ilusória de diversidade, desencorajando práticas alimentares tradicionais, sobretudo entre os jovens. O guia aponta que as tradições locais estão sendo substituídas pela busca de uma alimentação “moderna”, que, na realidade, é padronizada e nutricionalmente inferior.
A vida social e o meio ambiente em risco
Outro aspecto crítico destacado pelo Guia Alimentar é o impacto dos ultraprocessados na vida social. Devido à conveniência e rapidez no consumo, esses produtos são frequentemente ingeridos em situações de isolamento, como ao assistir televisão ou trabalhar. Isso reduz as oportunidades de interação social e enfraquece a prática de compartilhar refeições, um valor presente em muitas culturas. O guia também ressalta que a “socialização” mostrada nas campanhas desses produtos é irreal, focando mais no consumo individual.
No campo ambiental, os danos são expressivos. A produção de ultraprocessados depende de monoculturas intensivas, que utilizam pesticidas e fertilizantes, degradando o solo e a biodiversidade. Além disso, o transporte e a comercialização desses produtos geram grandes quantidades de resíduos, principalmente embalagens plásticas não biodegradáveis, aumentando a poluição.
Histórico e evolução do guia
A primeira edição do Guia Alimentar foi publicada em 2006, estabelecendo as primeiras diretrizes oficiais sobre alimentação saudável no Brasil. No entanto, as transformações sociais e o aumento das doenças crônicas tornaram necessária a revisão dessas orientações. A segunda edição, publicada em 2014, foi desenvolvida em parceria com a Universidade de São Paulo (USP) e contou com o apoio da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas). Desde então, o guia se mantém atual e essencial para orientar a população a fazer escolhas mais saudáveis e sustentáveis.
Kelly Alves, coordenadora do Ministério da Saúde, reforça que os desafios continuam: “As evidências científicas mostram que as doenças crônicas, como obesidade e diabetes, ainda avançam e estão diretamente ligadas à alimentação inadequada”, conclui.