O presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva publicou uma enquete no Twitter em que questionou a opinião dos eleitores sobre um eventual retorno do Horário Brasileiro de verão, que terminou em abril de 2019, por decisão do governo Jair Bolsonaro. À época, o atual presidente disse que a economia de energia com o adiantamento em uma hora dos relógios foi considerada praticamente nula segundo informações do Operador Nacional do Sistema. Mas, na enquete de Lula, o retorno do horário foi aprovado por 73,9% das 141 mil pessoas que haviam votado. Outros 26,1% eram contra.
Difícil entender certos contratempos, pois coloca-se frente a frente a ciência e a tecnologia, com a vontade popular. Esta, por sinal, também, não tem nada de unanimidade. O Horário Brasileiro de Verão que data (em sua versão mais moderna) dos anos 60, sempre foi polêmico, sempre deixou dúvidas e sempre suscitou discussões, muitas delas, aprofundadas. É que, ele mexe, não só com o imaginário das pessoas, como também, influencia em decisões do cotidiano, como o comportamento da economia.
Se, apenas, o desconforto de alguns, entre os que gostam de se levantar mais cedo e ir mais cedo do trabalho para casa e os que preferem o horário habitual (chamado, até, de “horário de Deus” por certos segmentos religiosos), fosse o gargalo mais complicado, ainda estaria de bom tamanho. Ocorre que, esta relação de “amor e ódio” ao Horário de Verão, passa por uma série de outros procedimentos, como a mudança de hábitos convencionais. Levantar para ir ao trabalho e à escola ainda escuro, acertar o “relógio biológico”, definir tarefas modificadoras e uma série de outros inconvenientes, torna o caso mais emblemático ainda.
Todavia, a alegação maior vem, de fato, do setor produtivo. Há segmentos que defendem tal horário, por levarem em consideração o risco de blackouts (apagões) nos chamados horários de pico, como já ocorreu em diversas ocasiões, devido à escassez de energia elétrica em determinadas regiões e em determinadas épocas. É difícil imaginar, por exemplo, uma cidade do tamanho de São Paulo em meio a um apagão no final do expediente… Seria um caos absoluto. E, o que dizer de grandes conglomerados industriais que sofreriam perdas financeiro/econômicas irreparáveis, com a paralização de máquinas e equipamentos? Complicado.
Convém salientar, também, que horário de verão não é exclusividade nem invenção de brasileiro. Ele ocorre em diversos outros países e a justificativa, esta sim, sempre é a mesma: o risco de apagões, a deficiência dos sistemas eletrificadores e as conveniências e inconveniências sociopolíticas e econômicas. E, por assim ser, trata-se de uma decisão difícil de se tomar. A dúvida, então seria: atender a vontade do povo e voltar com o Horário de Verão, ou, ouvir a voz da economia e não colocar o sistema em xeque?