Em sessão especial, a Câmara Municipal resgatou fatos sobre os 25 anos de recuperação da autonomia política e o trabalho do vereador Geraldo Tibúrcio, cassado na ditadura
Depois da Caravana da Anistia, mais um capítulo da história política de Anápolis foi trazido à tona. Desta vez, por iniciativa da Câmara Municipal, que promoveu uma sessão solene, no dia 20 de maio de 2010, para comemorar os 25 anos de restauração da autonomia política do Município. Na mesma oportunidade, foi convocada uma sessão extraordinária para a deliberação de três projetos de resolução da Mesa Diretora: um deles revogando a Resolução nº 27, de 4 de maio de 1964, que cassou o mandato do, então vereador, Geraldo Tibúrcio. As outras duas proposituras em pauta foram a criação da Corregedoria e da Ouvidoria do Poder Legislativo.
O evento atraiu dezenas de personalidade do meio político e familiares do ex-vereador Geraldo Tibúrcio, que era militante de esquerda e um dos fundadores dos movimentos operários na região. Tibúrcio foi duramente perseguido pelo regime militar e se tornou uma espécie de ícone da esquerda goiana, pelo seu caráter, pelo espírito combativo e a humildade.
Líder operário, ele foi eleito vereador em 1962 e, dois anos depois, cassado pelos militares. Voltou a se candidatar ao cargo em 1982, exercendo a vereança de 1983 até 1988. Geraldo Tibúrcio faleceu em 2003. Durante a homenagem, ele foi representado pelos filhos: Humberto, Marcos e Márcio, que receberam uma cópia do projeto que revogou a cassação do mandato do pai. Também a sala onde funcionará a Ouvidoria da Câmara, levará o nome do ex-vereador Geraldo Tibúrcio.
Autonomia
Objetivando lembrar os atos que marcaram os 25 anos de resgate da autonomia política de Anápolis, várias autoridades foram convidadas para participar da sessão especial. Dentre elas, o ex-presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE) e ex-deputado federal Aldo Arantes, autor do Projeto de Lei 1.913/83 que garantiu que os anapolinos pudessem, novamente, eleger através do voto os seus prefeitos.
De 1973 a 1985, os militares consideraram Anápolis como Área de Interesse Segurança Nacional, devido à instalação da Base Aérea. Na verdade era, também, um mecanismo para frear os movimentos de luta pela redemocratização do País, que tinha o município como uma das grandes trincheiras, através de lideranças como os irmãos Santillo (Henrique, Adhemar e Romualdo); Fernando Cunha Júnior; Haroldo Duarte, Anapolino de Faria, Max Lânio Gonzaga Jaime e vários vereadores, como Valmir Bastos.
Na época, inclusive, em que o projeto para devolver a autonomia política ao Município, estava sendo votado no Congresso Nacional, os militares fechavam o cerco para que vereadores e outras lideranças da cidade não participassem da sessão. O próprio Henrique Santillo, que à época era senador da República, segundo relatou o médico Max Lânio Jaime, foi a Brasília com quatro edis em seu carro particular, sendo parado em uma barreira montada pelo Exército.
Foram vários outros movimentos. O então deputado estadual Pedro Canedo relata que redigiu um requerimento, solicitando ao Governo Federal que fosse devolvida a autonomia política a Anápolis. E, segundo ele, numa oportunidade, ficou frente a frente com o General João Batista de Oliveira Figueiredo, então, Presidente da República e entregou-lhe o documento, sob o testemunho do médico Maurity Nascimento Escobar, já falecido.
Em 1985, depois de o quadro ter sido revertido, houve a primeira eleição direta para prefeito, sendo que os candidatos, à época, foram Adhemar Santillo (PMDB), Rubens Otoni (PT), Pedro Canedo (PFL) e Fernão Ivan (PDT). Adhemar venceu o pleito com 56% dos mais de 96 mil votos.