O projeto da ferrovia foi iniciado no ano de 1987, no governo do então presidente José Sarney. Em território goiano, a obra só começou a avançar a partir de 2008
Claudius Brito
A Ferrovia Norte-Sul (FNS), projeto idealizado e iniciado no governo do então presidente José Sarney, em meados da década de 1980, é um sonho acalentado e compartilhado pelos anapolinos já que o Município foi apontado como o marco zero desse modal de transporte, que pode alavancar a economia regional e nacional. Pelo menos, é o que se espera e, diga-se de passagem, a espera é longa.
A obra da Norte-Sul, segundo a Valec (empresa do Governo Federal responsável pelo projeto), teve início em 1987, no trecho entre Açailândia e Porto Franco, no Maranhão, perfazendo, apenas, 215 quilômetros dos 1.550 que era previsto no projeto original, o qual passou por modificações, agregando novos trechos.
O trecho Anápolis-Uruaçu, em território goiano, perfazendo 280 quilômetros, teve início em 2008 (a reportagem não conseguiu encontrar registros sobre a data precisa do começo da obra).
Conforme divulgado na imprensa e confirmado por meio de documentos oficiais, o custo do empreendimento, no trecho Anápolis-Palmas (TO), foi estimado em R$ 4,2 bilhões.
No meio do caminho, ou seja, em quanto a obra estava em execução pela Valec, operações do Ministério Público Federal e da Polícia Federal realizaram grandes operações, como a Trem Pagador, que apontaram prejuízos aos cofres públicos federais.
Um documento do Tribunal de Contas da União (TCU) indicou, na época, relatou indícios de sobrepreço e superfaturamento em montantes superiores a R$ 146,3 milhões relativos à construção da FNS/GO, razão pela qual o órgão determinou a retenção cautelar de valores pela Valec.
Irregularidades a parte, a obra da Norte-Sul seguiu o seu curso, encontrando mais alguns obstáculos pelo seu caminho, como a construção do viaduto sobre a Avenida Brasil Sul, passando pelo Kardótromo Internacional até sair do outro lado da rodovia BR-060, no Distrito Agro Industrial (DAIA).
Inclusive, o Kardódromo teve de ser interditado por um longo período. Ali foram instaladas bombas para fazer o bombeamento de água, devido às características do terreno.
No dia 22 de outubro de 2010, com exclusividade, o CONTEXTO trouxe uma matéria sobre o início das obras do pátio da FNS.
No dia 18 de março de 2012, a então presidente da República, Dilma Rousseff, esteve em visita oficial a Goiás e veio conhecer o canteiro de obras da ferrovia. Na época, a imprensa não teve acesso a parte do roteiro, em que ela esteve com políticos e técnicos da Valec. Porém, soube-se que a presidente ficou irritada com o problema do viaduto, que estava arrastando a conclusão da obra, iniciada no governo de seu antecessor, o então presidente Lula.
Caiado anuncia ampliação do Projeto da Cerveja de Mandioca
No dia 22 de maio de 2014, Dilma Roussef, acompanhada do então governador Marconi Perillo e dezenas de ministros, deputados, senadores; do então prefeito à época, João Gomes e outras autoridades, inaugurou 855 quilômetros da FNS ligando Anápolis e Palmas, capital do Estado do Tocantins.
Esse trecho abrange 34 municípios, sendo 10 em território tocantinense e 24 em território goiano. Ao longo de sua extensão, foram construídas 35 pontes, 36 viadutos e 2 túneis. E, conforme divulgado na época, a obra consumiu 110 mil toneladas de trilhos e 1,6 milhão de dormentes.
O trecho da Ferrovia Norte-Sul é ligado ao semento Palmas (TO)-Açailândia (MA), com 719 quilômetros de extensão, perfazendo o total de 1.574 quilômetros de ligação férrea pela FNS passando pelos estados de Goiás, Tocantins e Maranhão.
Após a inauguração oficial, foram registradas algumas viagens utilizando a malha, até então, operada pela VLI, uma holding ligada à Valec. A primeira viagem experimental ocorreu no dia 9 de dezembro de 2015 com um carregamento de farelo de soja embarcado no terminal da indústria Granol, com destino ao Porto de Itaqui (MA), numa composição com 80 vagões.
Bolsonaro e Caiado assinam concessão da FNS no aniversário de Anápolis
Em 2019, a Rumo S/A, empresa do Grupo Cosan, arrematou a concessão de exploração de 1.537 Km da FNS, ofertando lance de R$ 2,719 bilhões (com ágio de 100,92%, já que o lance inicial era de R$ 1,35 bilhão), durante leilão na Bolsa de valores em São Paulo, no dia 28 de março.
A concessão faz parte do Programa de Parceria e Investimentos do Governo Federal e compreende dois trechos da Norte-Sul: o primeiro, de Anápolis e Porto nacional (TO), com 855 Km, já autorizado pela Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) e o segundo de Ouro Verde de Goiás a Estrela D´Oeste (SP), com 682 Km.
O prazo da concessão é de 30 anos.
A assinatura do contrato entre a Rumo S/A e o Governo Federal aconteceu numa concorrida solenidade realizada nas dependências do Porto Seco Centro-Oeste, com a presença do presidente Jair Bolsonaro; do governador Ronaldo Caiado; do prefeito Roberto Naves e dezenas de ministros, deputados, senadores, secretários estaduais e municipais, vereadores, prefeitos de vários municípios, lideranças do setor produtivo e os executivos da companhia que arrematou a FNS.
O ato foi realizado no dia 31 de julho de 2019, quando Anápolis estava, então, completando o aniversário de 112 anos de sua emancipação. Um grande presente na época, considerando os mais de 10 anos desde o início da obra.
No dia 21 de agosto de 2020, o governador Ronaldo Caiado esteve em Anápolis anunciando o projeto de implantação do Centro de Excelência em Tecnologia Ferroviária, ocupando parte do espaço do Centro de Convenções, num projeto envolvendo iniciativas por parte do Governo de Goiás, Governo Federal (por meio do Ministério da Infraestrutura) e, claro, a Rumo.
Entretanto, de lá para cá, pouco se falou desse projeto. Até a poucos dias, quando estava sendo construída a agenda para a visita do presidente Jair Bolsonaro à cidade, cogitava-se a possibilidade de que pudesse ocorrer algum anúncio relacionado ao projeto. Entretanto, nada foi dito e no Centro de Convenções, o local está como está quase desde a sua inauguração, ou seja, em um quase estado de abandono.
Ainda não há, também, nenhuma confirmação sobre o início das operações da FNS no trecho sob concessão na Ferrovia Norte-Sul, previsto para 2021, ou seja, para este ano. Portanto, ainda está em tempo e a expectativa é que, de fato, isso possa acontecer, pois a espera é longa e o desenvolvimento, embora não tenha prazo de validade, pede um pouco mais de velocidade, ainda, que seja sobre os trilhos, os trilhos do progresso.