Nas minhas andanças pelo mundo, muitas pessoas sinceras e corajosas já me perguntaram e continuam a perguntar por que um Deus bondoso permite que seus filhos amados passem por tantas lutas e provações. Quando eu digo “corajosas” é porque a grande maioria dos seres humanos, em algum momento das suas vidas, já se fez intimamente essa pergunta, mas não teve a coragem de verbalizar essa dúvida.
Acredito que há várias razões pelas quais isso acontece, mas há duas que são muito claras pra mim e podem ser identificadas no texto de João 9:1-3: “Caminhando Jesus, viu um homem cego de nascença. E os seus discípulos perguntaram: Mestre, quem pecou, este ou seus pais, para que nascesse cego? Respondeu Jesus: Nem ele pecou, nem seus pais; mas foi para que se manifestem nele as obras de Deus”.
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A primeira razão que identifico é para que a glória de Deus se manifeste, mas, como pode Deus se manifestar quando um pai perde um filho jovem, assassinado de maneira brutal, como aconteceu com um casal de amigos e irmãos que trabalham comigo na Missão Vida, deixando a jovem esposa, com menos de vinte e cinco anos, e uma filha pequena?
Como Deus pode ser glorificado quando um cristão comprometido com o Reino é vítima de uma enfermidade assoladora que ceifa sua vida em dias, semanas ou meses?
Como Deus pode ser glorificado quando uma mãe perde no mesmo dia o marido e três filhos em um acidente de carro? História essa, narrada pela própria vítima, quando me fez esta pergunta.
De forma bem simplista, em todos esses casos, Deus pode ser glorificado com a resignação, com a fé e com a confiança de que Ele, que vê todas as coisas, fez o melhor antes do “dia mal”. Alguns podem questionar que o “dia mal” não poderia ser pior do que esses relatados por mim e tantas outras histórias que eu e você temos conhecimento, mas, para Deus que tudo vê e tudo sabe, poderia sim haver dias ainda piores.
“E não somente isto, mas também gloriemo-nos nas próprias tribulações, sabendo que a tribulação produz perseverança, e a perseverança esperança. Ora, a esperança não confunde porque o amor de Deus é derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi outorgado.” (Rm 5:3-5).
A segunda razão por que sofremos faz parte da pergunta dos discípulos: quem pecou? O sofrimento muitas vezes é produzido em função do próprio pecado que habita em nós, mas não se esqueça: nem todo sofrimento é fruto de pecado.
Ouvi a história de um jovem, com menos de trinta anos, desesperado porque fez o teste de HIV e foi diagnosticado como soropositivo. Ao ser indagado sobre como ele achava que havia contraído o vírus, ele contou sua história. Disse que sempre teve uma vida desregrada e promíscua, chegando a manter relações sexuais com cinco pessoas diferentes (homens e mulheres) no mesmo dia. Usou vários tipos de drogas e não tinha nenhum limite. Seu questionamento era no sentido de saber por que neste momento, em que ele tinha aceitado Jesus como salvador de sua vida e endireitado seus caminhos, Deus permitiu que isto acontecesse com ele. Embora jamais tenha passado por algo tão duro, compreendi sua dúvida e respondi dizendo: “o perdão não anula a colheita”.
Outra história que marcou minha vida e ministério foi por ocasião da visita a um senhor que havia se convertido a Cristo e algum tempo depois foi preso, julgado e condenado a trinta anos de prisão por crimes que havia cometido. Ele também questionou o motivo de Deus, sendo tão bondoso, não levar em consideração sua conversão. Já conhecia sua história e fiz questão de ajudá-lo a se lembrar de parte dela. Ele tinha sido assaltante de banco, assassinado três pessoas, sendo duas da mesma família, era violento, principalmente com a esposa e o filho, e já havia praticado estupro. Sugeri que ele se colocasse no lugar daquelas pessoas que ele havia atingido de maneira tão cruel. As lágrimas rolaram em seu rosto. Não me contive e chorei com ele. Depois de alguns instantes, ele me disse: “O senhor tem razão, estou aqui porque vivi dissolutamente.”
Nós, que cremos em Jesus Cristo, estamos caminhando em direção à Jerusalém Celestial. Jesus não nos prometeu que seria fácil. “No mundo, passais por aflições; mas tende bom ânimo; eu venci o mundo” (Jo 16:33). Ele prometeu que estaria conosco. Às vezes, na tempestade, nós perdemos Jesus de vista. Isso aconteceu com discípulos que conviviam com o Senhor diariamente. “Então, entrando ele no barco, seus discípulos o seguiram. E eis que sobreveio no mar uma grande tempestade, de sorte que o barco era varrido pelas ondas. Entretanto, Jesus dormia” (Mt 8:23-24). Jesus estava presente no mesmo barco, confiava plenamente no Pai, não tinha nenhuma preocupação com as tormentas da vida, dormia profundamente. Já os discípulos estavam aterrorizados com o mar revolto. Foi preciso apenas chamar Jesus. Ele acordou do seu sono e ordenou que a tempestade cessasse e tudo se fez calmo. A bonança de paz e serenidade tomou conta do coração de seus seguidores.
Você pode estar completamente angustiado, preocupado, mas, no momento em que clama pela graça de Deus, Ele vem ao seu encontro.
Um dos textos que tem falado muito ao meu coração nos últimos anos é “Deus é o nosso refúgio e fortaleza, socorro bem presente nas tribulações” (Sl 46:1). Certamente, muitas coisas não conseguiremos compreender nesta vida e não teremos respostas para tudo, mas que não venhamos a desfalecer diante das tribulações e que consigamos manter a nossa fé na graça redentora de Jesus. “Porque, agora, vemos como em espelho, obscuramente; então, veremos face a face. Agora, conheço em parte; então, conhecerei como também sou conhecido.” I Co 13:12