É importante ter uma consciência pura, perdoada e restaurada, mas já é um bom ponto de partida ter alguma consciência. Ela é uma espécie de superego que revela e denuncia o mal que praticamos e não permite que aceitemos como normal o que é mal e abjeto.
A consciência é a presença de Deus nos homens. É o sinal de que ainda existe saúde espiritual, que, infelizmente, não encontramos em todos os seres humanos. O psicopata e o sociopata são as expressões mais agudas de um ser sem consciência, mas há níveis menores deste mal em pessoas que não se encaixariam nesta categoria de “seres degenerados”.
Tanto a psicopatia quanto a sociopatia podem se manifestar em pessoas comuns: pais, mães, filhos, empresários, trabalhadores, clérigos, professores… todos eles precisam ser ajustados por uma consciência boa e saudável.
Na verdade, “nossos melhores momentos ocorrem quando estamos nos sentindo desconfortáveis, tristes ou vazios porque apenas nestes momentos quando somos impelidos pelo desconforto é que somos capazes de aprofundar nossas raízes e procurar novos caminhos e respostas mais autênticos”, já dizia o psicoterapeuta e escritor norte-americano Scott Peck.
Ora, um homem sem consciência não se sentirá incomodado por nada que faça, mesmo quando comete vileza, imoralidade ou se entrega à mentira. Na verdade, o
homem sem consciência enfrenta um grande dilema: ele nunca vai poder perdoar a si mesmo porque ainda que seja culpado, recusará a ideia da culpa. Se não há culpa, não há perdão. Desta forma, ele é preso na armadilha de uma consciência que não funciona.
Isso pode ser explicado por um incidente histórico. Um bondoso clérigo cuidava de um leprosário e investia tudo que era possível para minimizar a dor e o isolamento daquelas pessoas. Ele levantava recursos para implementar melhorias na instituição, cuidava pessoalmente das pessoas, trazia palavras de consolo e ajudava a cuidar das feridas.
Um dia, ao carregar um balde com água fervendo, ele perdeu o equilíbrio e a água quente caiu em suas pernas, queimando-o severamente. Ele começou a chorar, as pessoas se aproximaram e alguém lhe perguntou:
- Está doendo muito?
- Ele respondeu: – Não. Não está doendo nada!
- A essa resposta coube outra pergunta: Então, por que chorar?
- E ele disse: – A falta de dor é o meu maior problema. Acabei de descobrir que contraí a lepra.
Não é a dor da consciência culpada que deve nos incomodar. Embora reconheçamos que existe muita culpa neurótica e destrutiva, na maioria das vezes, a culpa é um santo remédio que nos impede de avançar no mal e continuar na prática do erro. O grande mal não é ter culpa. A grande ameaça é a ausência dela.
Como bem afirmou Camillo Castelo Branco: ” A consciência é a inspiradora dos deveres, canção da piedade, da humanidade e de outras virtudes, deveres e obrigações da reta razão.” Sobre esse fato, vou além, pois a consciência é a austera filha da voz de Deus e, segundo Sócrates, “é a esposa da qual ninguém pode se divorciar”. Precisamos estar alertas quanto ao autoengano, bem como à capacidade de endurecimento da consciência que, após sucessivos atos, pode nos fazer perder a sensibilidade, tornando-nos pessoas cauterizadas.