Áudios com agressões verbais lotam o tráfego das redes sociais e acabaram nos principais veículos de comunicação do país
Por José Aurélio Mendes Soares
Se alguém ainda duvidava do poder das redes sociais, está aí mais uma prova de que elas podem alçar qualquer mortal ao estrelato ou simplesmente aniquilar reputações. O caso do cerimonialista de Anápolis, Valeriano Filho, de 59 anos, confirma isso de maneira brutal. Depois que um áudio em que ele agride verbalmente a diarista Maria José de Sousa Marques, de 54, vazou, as redes sociais atingiram um pico há muito não observado no tráfego de informações sobre o tema na Internet.
O assunto ultrapassou os limites do município e ganhou os telejornais do Estado em 24 horas e, no terceiro dia de repercussão, já estava nos principais veículos de comunicação do país. As palavras do cerimonialista foram duras. Depois que a diarista se desculpou por não comparecer a um compromisso agendado por Valeriano, dizendo que “havia faltado mocotó” e que ela precisaria fazer mais para ajudar uma pessoa, ele descarregou dizendo barbaridades, ofendendo a mulher com várias frases pesadas.
Valeriano disse que Maria José não era “digna de limpar nada”. E continuou… “Você para mim não passa de um lixo. Vai fazer mocotó, que é comida de pobre e que é isso que você sabe fazer. Eu tenho ódio de me misturar com gentalha como você”, afirmou. “Você é filha de criação. Você é lixo. Nem família você tem na vida”, acrescentou o cerimonialista. Por último ele a ameaçou: “Não cruza meu caminho. Se você não tem hombridade de honrar seus compromissos, eu tenho. O dia que eu te encontrar na rua, vou cuspir nessa cara horrorosa sua”.
Twitter, Facebook, Whats App e Instagram explodiram de comentários depois que esse áudio foi obtido de maneira ainda não esclarecida e divulgado. Praticamente todos os internautas se manifestaram em desfavor de Valeriano que, inclusive, teve vários desligamentos de membros de um grupo de Whats App que mantinha com pessoas ligadas à realização de eventos. “Não me sinto confortável em participar de um grupo administrado por uma pessoa dessas”, manifestou um deles. Outro afirmou “gosto muito de mocotó e também estou de saída”. Críticos da imprensa e advogados entrevistados sobre o assunto se solidarizaram em peso com a diarista, que afirmou não entender o motivo de tanta raiva contra ela nos áudios. “Fui muito humilhada e não achava que ainda passaria por isso nessa altura da vida”, desabafou Maria José.
O auge da repercussão aconteceu quando Maria José foi entrevistada no programa de Fátima Bernardes, na Globo. A humilhação de pessoas em redes sociais foi o tema do debate. Por várias horas, convidados e telespectadores deram suas opiniões sobre a forma como pessoas são tratadas no dia a dia, por patrões e superiores, suportando agressões em troca da continuidade do trabalho. A diarista se disse pessoa humilde e honesta e que tentou justificar sua falta a pedido de um amigo, que toca um bar onde é produzido o “mocotó”, um cozido de ossos de boi bastante apreciado em Goiás. “Luto para sobreviver e acredito que, nós que somos pobres, principalmente nesse momento de pandemia, precisamos nos ajudar e eu não podia negar o pedido desse amigo que também está em muita dificuldade”, explicou ela.
Caso de Polícia
Maria José não imaginava a repercussão que o caso tomaria depois da divulgação do áudio. É que o cerimonialista havia dado uma entrevista num dos programas da campanha do atual prefeito de Anápolis Roberto Naves, candidato à reeleição. Na entrevista, ele elogiava a queda da criminalidade no município, elogiando a atuação de Roberto pela criação da Força Tática. Uma forma de remunerar os policiais militares para que continuassem atuando durante suas folgas, em viaturas especiais locadas pela prefeitura. Adversários do prefeito aproveitaram a situação para impulsionar os áudios tentando ligá-los à índole de Roberto. A tentativa não surtiu esse efeito, mas levou ao conhecimento de todos o teor das frases infelizes.
Com a manifestação do presidente local da Ordem dos Advogados do Brasil, Jorge Henrique Elias, que disse que os áudios representam claro crime de injúria contra ela, a diarista decidiu procurar a polícia para denunciar Valeriano, que agora responde a inquérito. Segundo Jorge, Injúria é o crime de ofensa à honra subjetiva da pessoa, quando ela se sente ofendida em seu íntimo, por qualquer ato ou palavra de um terceiro, previsto no artigo 140 do Código Penal, com pena de até seis meses ou multa. Caberia também uma indenização no âmbito civil por danos morais, o que a diarista também está disposta a fazer.
Mas outros juristas consultados pelo CONTEXTO esclareceram que essa é uma via de mão dupla. Valeriano vai apresentar sua defesa e também pode entrar na justiça contra Maria José por causa da divulgação de um áudio particular, que não era para ser público, o que viraria o jogo à seu favor como vítima de difamação, tanto da diarista quanto do veículo que primeiro divulgou os áudios. “O papel da polícia é colher as informações e encaminhar ao Ministério Público que vai ou não oferecer denúncia. Depois disso, temos o processo que será julgado pelo Judiciário”, explicou ele, preferindo não se identificar. “Por isso não se deve levar em conta a repercussão social num primeiro momento, até para que o delegado, o promotor e o juiz possam se ater às provas e dar um tratamento justo à questão”, finaliza.
A defesa do cerimonialista
Valeriano Filho é um profissional conhecido e respeitado em Anápolis. Há mais de 30 anos realiza eventos, festas, formaturas, aniversários, casamentos e outros tipos de festas na cidade. Até então, possuía muitos admiradores. Mas, de alguns dias pra cá tem sido vítima de xingamentos e até ameaças. O CONTEXTO ouviu com exclusividade o cerimonialista que, até então, havia se recusado a falar com outros veículos de comunicação, limitando-se a publicar nas redes sociais que havia cometido um erro impensado durante um momento de fúria.
Bastante abalado, Valeriano explicou que não costuma ser tomado pela raiva. “Sou uma pessoa educada e cortês, que gosta de ajudar os outros e que mantém sempre um tom baixo de voz”. Mas, o que teria feito com que ele explodisse daquela forma, ofendendo tanto uma senhora que havia comunicado que faltaria ao trabalho? O cerimonialista respondeu dizendo que se tratava de um compromisso importante e que Maria avisou em cima da hora, descumprindo um acordo e que aquela situação já teria ocorrido mais de uma vez. “Sei que usei palavras duras, mas quem nunca explodiu diante de problemas e cometeu erros? Eu não merecia ser massacrado em público como está acontecendo. Eu teria a humildade sim, de me desculpar com a Maria, em particular, sem a necessidade dessa exposição, depois que ambos nos acalmássemos”, relatou.
Valeriano também contextualizou a situação. Segundo ele, os profissionais da área de eventos têm sido duramente penalizados pela pandemia desde março, sofrendo enormes prejuízos e colocando até em risco a sobrevivência de seus negócios. “Muitos colegas faliram e tenho tentado ajudar a nossa classe de todas as formas possíveis. Mas eventos são desmarcados a todo instante e sou eu quem tem que lidar com isso, sofrendo enorme pressão de todos os lados”, acrescenta. “Sei que foi um erro tratar a Maria assim, mas tenho sofrido com ansiedade e depressão, faço uso de remédios controlados e, naquele dia em especial, a recusa dela em me ajudar foi a gota d´agua para que eu tivesse um surto de raiva. Agora me diga quem nunca passou por uma situação dessas? A diferença é que as pessoas resolvem seus problemas entre si, enquanto nesse caso, estou sendo julgado por toda a população brasileira, sendo visto como um monstro”, completa.
O cerimonialista também contou ao CONTEXTO que pretende processar o veículo que divulgou os áudios e também Maria José, por difamação, assim como vai provar que não agiu de má fé, embora reconheça que deveria ter se segurado com as palavras. “Peço desculpas à ela e a todos que se sentiram ofendidos. Eu não deveria ter feito isso. Mas o peso da execração pública que estou suportando já é muito maior do que o de qualquer punição que eu merecesse”, retrata Valeriano.
Nada justifica a conduta desse senhor. O jornal parece estar minimizando a coisa, já se sabe que isso não é de hj q em Anápolis, onde nasci e morei até 25 anos, sempre os “ricos” humilham seus funcionários, entre outros.
Eu justificar que toma remédios e tal, ninguém tem nada haver com a vida ruim de ninguém não. Parem de se justificar colocando a doença depressão, ansiedade, stress, etc. Se não consegue se segurar tem q ficar internado.
Só falou assim pq tá perdendo dinheiro se não ele não iria se arrepender nunca. Tem que ser processado e perder trabalhos pra sentir na pele o que a senhora sentiu
Data maxima venia de posições contrárias e sem delongas desnecessárias, concordo em número, gênero e grau commas precisas colocações do presidente da OAB Anápolis, Dr. Jorge Henrique Elias, no sentido da caracterização do crime de injúria.
Não nada que justifique a humilhação perpetrada contra essa senhora.