As compras compulsivas, praticamente inevitáveis no final do ano para a maioria das famílias, acende a luz amarela (de atenção) para o sistema de crediário no Brasil. De uma forma, ou, de outra, as pessoas tendem a gastar nessa época do ano, atraídas, principalmente, pelas propagandas natalinas e a onda que varre, praticamente, todas as camadas sociais. Não há como fugir do desejo de entrar em uma loja e adquirir o bem que, em muitos casos, era “namorado” há tempos. Com a libração do Décimo Terceiro Salário e o pagamento de dezembro antecipado, principalmente pelo Poder Público, a vontade de gastar é maior do que a vontade de guardar. É inerente da maioria dos seres humanos.
Mas, o que parece ser bom, remete à necessidade de uma reflexão, tanto para quem compra, como para quem vende. O comprador precisa pesar e medir até aonde vai sua capacidade de endividamento, ou, no caso, de comprometimento dos ganhos e, provavelmente, das reservas. O vendedor, porque entre vender e não receber, às vezes é melhor não vender e guardar a mercadoria, desde que ela não seja perecível. Esta gangorra, na maioria dos casos, sinaliza para o descontrole na quitação dos compromissos financeiros, mais conhecido por inadimplência. Ou seja, quando pretende-se pagar, mas, falta o dinheiro.
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Na realidade atual, o número de registros de inadimplentes subiu 4,1% entre os meses de outubro e novembro, em todo o Brasil. O indicador apontou alta de 5,4% no trimestre móvel, encerrado em novembro, contra o trimestre móvel imediatamente anterior, na mesma série de dados dessazonalizados. Essa tendência, por sinal, condiz com o cenário atual, no qual a inflação pesa sobre o já comprometido orçamento das famílias e os juros, ainda mais agora, após o tom mais duro do Copom ao anunciar mais um aumento na taxa básica, não devem ceder tão cedo.
Convém, lembrar que o momento é de muita precaução, tendo em vista o cenário econômico, ainda, desfigurado pela pandemia da covid-19 e com a incerteza para o futuro. Ninguém, absolutamente ninguém, saberia dizer quais seriam os rumos da economia internacional e, muito menos, da economia brasileira. O desemprego de quase 14 milhões de brasileiros, e, brasileiras, é um fantasma muito presente na realidade nacional. Os programas de assistência social dos governos, que pipocam aqui e acolá, em todos os níveis, ao que consta, não são perenes, não são eternos e, um dia, vão acabar.
Assim sendo, mesmo com a dificuldade em resistir ao desejo de gastar, é mais conveniente refletir sobre como será o comportamento de cada um de agora em diante. O prazer de gastar hoje, pode não ser suficiente para compensar, ou, diminuir o dissabor da inadimplência amanhã. E, para ser sincero, não existe coisa mais desagradável do que cobrador na cola de quem está em atraso com seus compromissos financeiros.