Durante a segunda guerra sino-japonesa (1937-1945), os campos de batalhas revelavam cenas de horror. Homens tinham a cabeça degolada; as mulheres eram transformas em escravas sexuais; as crianças eram poupadas, mas, órfãs e em terras devastadas, ficavam à mercê da fome, da miséria, da morte.
Em 1938, o americano Calvitt Clark e sua esposa Helen, missionários presbiterianos, foram à China com o intuito de amparar as crianças órfãs naquele País, com o apoio e recursos enviados por amigos norte-americanos. Foi assim que surgiu o sistema de apadrinhamento, inicialmente chamado ChildFundInternational, ou Fundo Internacional para a Criança, que se chamou também Christian Children’sFund e, hoje, é a ChildFundInternational, uma das maiores organizações do mundo de desenvolvimento infantil, ramificada em 53 países, inclusive, no Brasil, onde está presente desde 1966.
Nesta sexta, 09/08, o diretor da ChildFund, Gérson Pacheco, esteve em Anápolis para ministrar palestra na Igreja Presbiteriana Batista. Mais do que falar sobre a ONG, ele veio fazer um convite, ou mais que um convite, um chamamento para algo muito especial: uma transformação de vidas.
Em entrevista exclusiva concedida ao Portal CONTEXTO, no Denalli Hotel, Gérson Pacheco falou sobre a trajetória e o trabalho da ChildFundBrasil, uma braço da ChildFundInternational e da ChildFundAlliance que, hoje, beneficia em torno de 140 mil pessoas, destas, aproximadamente 42 mil crianças, adolescentes e jovens que estão tendo as suas vidas transformadas por outras pessoas que, da mesma forma, são também transformadas pela prática da humanidade.
Gérson Pacheco narrou que a ChildFundBrasil instalou-se em Belo Horizonte, tendo como primeiro foco de atuação uma das regiões com o maior índice de mortalidade infantil do Brasil: o Vale do Jequitinhonha, no Nordeste do Estado de Minas Gerais. De lá, o trabalho se estendeu para a região de Cariri, o sertão nordestino.
Extrema pobreza
O trabalho está centrado no atendimento de crianças, adolescentes, jovens e as famílias que estão na faixa da extrema pobreza. “Gente que usa o fogão a cada dois dias; gente que não sabe o que é um café da manhã; o que é um pão”, pontua Gérson Pacheco. Segundo ele, no Brasil, hoje, são cerca de 2,4 milhões de crianças nesta situação, ou seja, crianças que têm uma refeição a cada dois dias, apenas. Somando-se os adolescentes e os adultos, são mais de 8 milhões de brasileiros nestas condições e 32 milhões numa faixa um pouco acima, a d pobreza.
“Nosso trabalho, primeiro, é identificar onde estão essas pessoas que vivem na extrema pobreza”, ressalta o diretor da ONG, explicando que as ações desenvolvidas pela mesma seguem três vertentes: a primeira, a assistência (remédio, comida e outros bens o produtos de alta necessidade; a segunda, o cuidado (saúde, educação, integração, dentre outros) e a terceira vertente é a autossuficiência, com a busca de meio para que as pessoas extremamente pobres possam desenvolver algum tipo de atividade que lhes garanta colocar a comida em casa.
“Isso é sustentabilidade, não se faz ação social sem sustentabilidade, como fizemos no Vale do Jequitinhonha por 16 anos”, ponderou Gérson Pacheco, acrescentando que para se alcançar objetivos sustentáveis é preciso união entre a sociedade organizada, o poder público e a iniciativa privada “e não se faz isso em menos de 16 anos”, disse . Seguindo os moldes do trabalho desenvolvido nas regiões do Jequitinhonha e Cariri, a ChildFundBrasil, através de um estudo feito junto ao Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) e o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), mapeou 371 municípios com a presença de pessoas na extrema pobreza, concentrando-se, principalmente, nos estados do Nordeste: Piauí, Maranhão, Paraíba e Alagoas, onde a ONG estará levando a sua ação e construindo alianças.
Apadrinhamento
Questionado sobre o objetivo da vinda a Anápolis, se havia algum interesse da ONG em desenvolver algum trabalho na região, Gérson Pacheco respondeu que o maior “câncer” da sociedade na atualidade chama-se “desigualdade social”, disse, e explicou: “Nós estamos aqui para fazer com que as pessoas autossuficientes de Anápolis, onde não há extrema pobreza, possam nos ajudar. A compaixão é da natureza humana, não podemos deixar os outros passarem fome”, destacou.
Como ajudar? Essa pergunta foi respondida com um: “simples assim!”. Da mesma forma que lá nos idos da década de 30, os americanos faziam o apadrinhamento com US$ 10, aqui no Brasil, o apadrinhamento é feito por R$ 67. Trocando em miúdos, os mesmos 10 dólares de antigamente. Um valor que, conforme disse, uma pessoa gasta para comer uma pizza e tomar uns refrigerantes.
Com R$ 67 mensais, acrescentou Gérson Pacheco, vidas são transformadas, de um lado e de outro. Ele contou que lá no Jequitinhonha, em muitas casas de chão batido, barro e telhado de palha, as crianças adotadas e as famílias colocam os quadros dos padrinhos e madrinhas e têm por eles uma verdadeira adoração, pela mudança de vida eles proporcionaram naquele lar. “Isso é um legado que a pessoa leva para o resto da vida”, frisou, dizendo que é muito comum também padrinhos e apadrinhados se corresponderem, havendo, portanto, todo um leque de possibilidades de acompanhamento das pessoas assistidas e também do resultado do trabalho da ONG, que é auditada internacionalmente e tem 53 anos de história e relevantes serviços prestados no Brasil.
SERVIÇO
Para conhecer mais sobre o trabalho da ChildFundBrasil, é só acessar o site: www.childfundbrasil.org.br
Sobre o apadrinhamento: www.childfundbrasil.org.br/apadrinhe
PALESTRA
Data: 09/08/2019
Horário: 19h30
Local: Igreja Presbiteriana de Anápolis
Rua Desembargador Jaime, nº 194, Centro