O político tinha 84 anos e estava internado em Goiânia, com insuficiência renal, quando teve uma parada cardíaca
Morreu nesta quinta-feira, 24 de fevereiro, o ex-prefeito e ex-deputado estadual Wolney Martins. O político tinha 84 anos e estava internado em Goiânia, com insuficiência renal, quando teve uma parada cardíaca.
Recentemente, ele concedeu uma entrevista ao CONTEXTO sobre o aniversário de 114 anos de Anápolis, onde teve parte de sua trajetória política relembrada. a reportagem começava citando o Viaduto Ayrton Senna, que divide os bairros Anápolis City e Parque Brasília, onde ainda é possível ler a frase “Honestidade e Trabalho”.
Esse era o slogan da administração de Wolney Martins, prefeito em duas ocasiões e responsável por aquela obra. Nomeado em 1980 e eleito em 1983, era adversário político de Adhemar Santillo, com quem mediu forças nas urnas mais de uma vez. Aos 84 anos, vivia modestamente com a mulher “Dona Santa”, num apartamento alugado no centro. Advogado aposentado, se dedicava a escrever um livro de memórias.
Wolney era natural de Palmeiras de Goiás, mas veio para Anápolis aos 12 anos. Com a saúde em dia e bastante lúcido, na ocasião da entrevista, o ex-prefeito também fez sua crítica à pedido do CONTEXTO.
Segundo ele, o principal problema da cidade é antigo. A falta de planejamento para o futuro. “Isso é um ciclo vicioso. Quando um administrador resolve voltar os olhos para o presente, com soluções imediatistas e populistas, acaba obrigando os outros administradores que o sucedem a fazer o mesmo. E isso aconteceu com Anápolis em algum momento. A cidade deixou de ser preparada para o futuro, de ter obras indutoras do desenvolvimento”, analisou.
Wolney era otimista em relação ao futuro próximo de Anápolis. Mas nem tanto. Segundo ele, o município tem feito um bom trabalho no enfrentamento à pandemia. Mas ele acreditava que, mesmo superado, o problema terá seu impacto econômico sentido ao longo de vários anos. “Não digo só isso. Haverá novos protocolos para trabalho e até as relações humanas ficarão diferentes. Vai levar muito tempo até que a vida se estabilize novamente, permitindo a retomada de crescimento no ritmo em que estava antes”, previu.
Ex-prefeito de Anápolis
Para os historiadores, Wolney Martins de Araújo foi um prefeito competente, honesto e trabalhador, mas temperamental, teimoso, exigente e autoritário. Na definição de correligionários, um político franco, leal, sem meias palavras e intransigente na defesa de princípios e opiniões.
Execrado pelos arquivais como prepotente e arrogante, em uma palavra pequena, ele poderia ser chamado de polêmico. Nesse agir, padeceu do próprio fel ao confrontar inimigos e notabilizar-se pela imagem contrastante com as suas realizações na Prefeitura de Anápolis (1980-1982 e 1993-1996).
Com quase vinte anos de atraso há que se resgatar o perfil visionário do prefeito que enxergou o futuro e executou obras estruturantes e definitivas. Mais que metade do sistema viário estrutural da cidade foi implantada por ele.
Duplicou a Avenida Brasil Norte, da Fayad Hanna até o trevo de saída para Corumbá, e asfaltou uma pista da BR 414 até o acesso da Base Aérea. Ligou as avenidas Brasil Norte e Universitária, através da Avenida Wesley Archibald.
Ainda na parte norte da cidade, duplicou a Avenida Fernando Costa e pavimentou praticamente todo o sistema viário do transporte coletivo em conexão com a Vila Jaiara. Na região sul, duplicou a Avenida Brasil, da confluência com a Rua Engenheiro Portela ao trevo da BR 060, completando o Eixo Brasil, obra estruturante para o futuro da cidade e consolidação do Daia.
Livro de memórias
A sua visão futurista ensejou a extensão da Avenida Goiás, da passagem do córrego Catingueiro até a Vila Fabril, e a ligação deste bairro à Avenida Pedro Ludovico, através do asfaltamento da Avenida Benvindo Machado. Ainda na região oeste, ele duplicou a Avenida Pedro Ludovico até o Cemitério Parque.
Um conjunto de benefícios que melhorou sensivelmente o trânsito na região e possibilitou a retirada de centenas de caminhões do centro da cidade. Wolney deu o start ao duplicar trecho da Avenida Federal, entre as avenidas JK e Goiás, mas até hoje o Eixo Leste-Oeste é um projeto recorrente.
Esta via estrutural começaria no Daia e seguiria o leito da antiga estrada de ferro até a saída para Campo Limpo, na Vila Fabril, passando pela BR 153, Arco Verde, Vila Formosa, Estação Engenheiro Castilho (antiga Faiana), Jundiaí, centro, Antiga Estação Ferroviária/Terminal Urbano, Bairro São Jorge e região das cerâmicas, cortando a cidade de ponta a ponta.
Ao priorizar o setor leste criou eixos viários que favoreceram a implantação de corredores do transporte coletivo. Asfaltou a Avenida Jamel Cecílio, duplicada da Praça Jamel Cecílio à Avenida JK.
A partir da duplicação da Avenida Ana Jacinta implantou três vias monumentais duplicadas no extremo leste da cidade: Avenida Independência, Avenida Angélica e o Anel Viário Leste, obras que influenciaram a implantação e o desenvolvimento de dezenas de bairros.
Criticada por imediatistas, a execução deste eixo, no meio do mato, abriu caminho para a cidade tomar o rumo certo de seu crescimento – o leste. O Bairro de Lourdes era uma região isolada e estigmatizada pelos seguidos acidentes fatais na antiga passagem da BR 153, onde edificou o Viaduto Airton Senna, um cartão de visita da cidade.
Em seu livro de memórias, o ex-prefeito explica que o projeto seguiu as normas do Denit e que obras similares estavam sendo construídas no Anel Viário de Anápolis. No seu segundo governo concluía o projeto para canalização de todos os córregos da zona urbana de Anápolis – 12 km – para a implantação de 24 km de pistas marginais, com verba federal de US 7 milhões de dólares, a fundo perdido, quando tramou-se o boicote à liberação dos recursos.
No livro ele preparava chumbo grosso por conta da sua “profunda mágoa”. Ele não perdoa “a camarilha” que cometeu “um crime contra a cidade” nem a imprensa que, segundo ele, calou-se “covardemente”.
Dos 2,8 milhões de metros quadrados de pavimentação de qualidade que implantou em seus dois governos, a maioria foi destinada à concepção de eixos iluminados convergentes à expansão da malha do transporte coletivo urbano, que equipou com 149 novos abrigos de alvenaria em estratégicos pontos de parada.