Muito daquilo que fazemos é por pura vaidade.
Não fazemos porque é melhor para nossa vida, nem para nossa saúde, nem pela consciência social e humanitária, nem pelos nossos filhos, nem pelo dinheiro, nem mesmo por Deus. Fazemos por pura vaidade! E somos consumidos por ela.
No filme “O advogado do diabo”, Kevin Lomax (Keanu Reeves), advogado de uma pequena cidade da Flórida que nunca perdeu um caso, foi contratado por John Milton (Al Pacino), dono da maior firma de advocacia de Nova York. Kevin recebe um alto salário e várias mordomias, apesar da desaprovação de Alice Lomax (Judith Ivey), sua mãe, uma fervorosa religiosa, que compara Nova York a Babilônia. No início tudo parece correr bem, mas logo Mary Ann (Charlize Theron), a esposa do advogado, sente saudades de sua antiga casa e começa a testemunhar aparições demoníacas. Entretanto, Kevin está empenhado em defender um cliente acusado de triplo assassinato e cada vez dá menos atenção sua mulher, enquanto seu misterioso chefe parece sempre saber como contornar cada problema e tudo que perturba o jovem advogado.
No final, depois de perder tudo aquilo que era precioso e sua esposa morrer, percebendo a armadilha em que havia caído, desesperado, ele se suicida. Entretanto, ao se desamarrar do diabo, ele se torna livre. Mas a jogada ainda mais sensacional surgirá na última cena do filme, quando o diabo entra em cena mais uma vez, com outra proposta ainda mais genial. E ele cai em nova armadilha, e o proponente (o diabo), cinicamente, muda a cena e diz: “vaidade é meu pecado predileto!”
Existe vaidade intelectual. Fazemos as coisas por puro diletantismo. Existe vaidade religiosa. Jesus teve que constantemente lidar com o grupo dos fariseus, os mais estritos seguidores do judaísmo, por causa de suas atitudes hipócritas, em nome de um suposto zelo por Deus. Pura vaidade! Eles faziam aquilo para serem apreciados pelos homens e aplaudidos. Existe vaidade política! Pessoas que assumem posições de destaque, mas cuja agenda é apenas para autopromoção. Na verdade, em tudo aquilo que fazemos, se formos sinceros, haverá sempre o risco de sermos motivados meramente pela vaidade. Nada de Deus. Tudo por causa de nosso ego inflado.
O problema é que não existe disciplina humana para a vaidade. Nunca vi um pastor ou padre, que fosse disciplinado de sua posição clerical por causa de vaidade. Este pecado é subjetivo, íntimo, interior, não cabe nas categorias de pecados exteriores como adultério, roubo, fraude ou assassinato. Talvez, por ser mais fácil de ocultar, seja mais difícil de ser denunciado em nós mesmos e ser tratado.
Uma das orações judaicas mais lindas que encontramos no livro de Salmos diz o seguinte: “Se no meu coração contemplar a vaidade, o Senhor não me ouvirá!” (Sl 66.18). A vaidade embrutece, engana, distorce a realidade. É o pecado predileto do diabo e ainda tem o grave efeito colateral de impedir que Deus ouça as nossas orações.